Por Victor Borges
(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou nesta quarta-feira a melhora da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela agência S&P e agradeceu o apoio do Congresso e do Judiciário, mas disse que ainda falta o Banco Central se somar ao “esforço”.
“Está faltando aí o BC se somar a este esforço, mas quero crer que estejamos prestes a ver isso acontecer”, afirmou Haddad a jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda. "Na hora em que estivermos todos alinhados, a coisa vai começar a prosperar."
Haddad fez os comentários após ser questionado se a melhora da perspectiva do Brasil pela S&P ajudaria no processo de corte da taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
De acordo com Haddad, a ação da S&P é uma "mudança de viés, de rota".
A agência de classificação de risco elevou a perspectiva para a nota de crédito do Brasil de "estável" para "positiva", e reafirmou o rating "BB-". Trata-se da primeira melhora de perspectiva da nota de crédito do país por uma das três principais agências de classificação de risco globais desde o início do novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad afirmou aos jornalistas que o país vai retomar o grau de investimento e ponderou que, na América Latina, existem atualmente três países com esta classificação, mas que eles estão em um cenário que não é desejado para o Brasil.
"Atingir o grau de investimento é inevitável se trabalharmos juntos", disse.
Em entrevista à Reuters na tarde desta quarta-feira, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que o país poderá recuperar o grau de investimento em 2026.
"Tem muito por fazer, mas estamos na direção correta, é só não perder nem a intensidade e nem a direção", disse Ceron.
Aos jornalistas, Haddad também pontuou que tudo concorre para que a harmonia entre a política fiscal, de responsabilidade do governo, e a política monetária, conduzida pelo BC, chegue "antes que o previsto".
"Temos a oportunidade de ouro de fazer a diferença", disse.
Em um dia marcado pela decisão de política monetária do Federal Reserve, que manteve sua taxa de juros na faixa de 5% a 5,25%, Haddad também comparou a situação dos Estados Unidos e da Europa com a do Brasil.
De acordo com o ministro, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fed estão mais distantes de suas metas de inflação que o Brasil, mas suas taxas de juros são mais modestas.
O ministro fez agradecimentos diretos ao Congresso e ao STF "pelo que fizeram pelo país", e disse que também deseja agradecer ao BC pelo mesmo motivo "o mais cedo possível".
AUTONOMIA DO BC
Em outro momento, Haddad defendeu o direito de pessoas que estão fora da cúpula do BC de opinarem sobre assuntos ligados à autarquia. Segundo ele, "não pode ter mordaça" sobre a autonomia do BC.
"A autonomia do Banco Central não é um tabu para que a sociedade não discuta o seu destino, tanto do ponto de vista orçamentário, como no próprio ponto de vista monetário. A sociedade, os jornalistas, economistas, autoridades têm liberdade de se manifestar sobre isso. Não pode ter mordaça em relação a esse assunto", afirmou.
Ao mesmo tempo, Haddad evitou comentar declaração recente do diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Dias Gomes, de que é preciso ter cautela para baixar os juros.
"Não cabe a mim comentar a declaração do diretor do Banco Central... Pode haver divergência de opiniões a respeito desses assuntos", disse.
Haddad também descartou mudanças no regime de metas brasileiro. Segundo ele, o sistema funciona bem há mais de 20 anos e ninguém pensa em mudá-lo.
O comentário de Haddad surge duas semanas antes da reunião em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) confirmará as metas de inflação para os próximos anos.
Nos últimos meses, em função de declarações do próprio Haddad e do presidente do BC, Roberto Campos Neto, o mercado tem especulado sobre a possibilidade de o CMN determinar que o BC siga a meta de inflação sem um prazo determinado. Atualmente, a autarquia trabalha com a meta por ano-calendário.
CRESCIMENTO ECONÔMICO
O ministro também afirmou que está otimista com a tramitação do projeto do novo arcabouço fiscal no Congresso e com a reforma tributária. Conforme Haddad, há boa vontade dos parlamentares e, se a área política "se arrumar", a economia brasileira vai andar.
Neste aspecto, Haddad pontuou que desde janeiro vem indicando que o crescimento da economia em 2023 será superior a 2%, com inflação abaixo de 6%.
No relatório Focus, em que o BC compila as projeções do mercado financeiro, a inflação prevista atualmente está em 5,42%, mas o crescimento ainda está abaixo dos 2%, em 1,84%.
(Reportagem de Victor Borges, em Brasília; reportagem adicional de Marcela Ayres, em Brasília, e Fabrício de Castro, em São Paulo)