BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou na tarde desta terça-feira a elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P, e afirmou que a reforma tributária, destacada pela agência de classificação de risco como determinante para a mudança, foi o "ponto alto" de uma trajetória de coordenação entre o Executivo e o Legislativo para a aprovação de medidas do governo.
"Eu penso que S&P estava aguardando o desfecho das reformas que foram propostas pelo Congresso. Agora eu preciso salientar a harmonia entre os poderes, quando o Executivo, Legislativo e Judiciário se unem em torno de uma causa. As agências percebem, que há uma coordenação em torno de um objetivo maior, e a reforma tributária realmente foi o ponto alto dessa trajetória", disse em entrevista a jornalistas em Brasília.
Haddad também elogiou a atuação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no processo de aprovação da reforma tributária no Congresso.
A agência de classificação de risco S&P elevou durante a tarde a nota de longo prazo do Brasil para "BB (BVMF:BBAS3)", de "BB-", afirmando que a aprovação da reforma tributária estende o histórico de implementação de "políticas pragmáticas" no país nos últimos sete anos.
No entanto, a nota brasileira segue em território especulativo, dois degraus abaixo do chamado grau de investimento. A S&P informou que a perspectiva para a nota é estável.
Apesar de comemorar a nova classificação, Haddad se disse inconformado com o fato de o país não ter o grau de investimento, visto como um selo de bom pagador.
"Um país que não deve um tostão em moeda forte, que tem mais do que 300 bilhões de dólares em caixa, não pode não ter grau de investimento. Tem que ter grau de investimento".
O ministro disse ainda que o país tem o dever de alcançar um ritmo de crescimento "no mínimo" alinhado com a média mundial, mas ressaltou que há potencial para que a economia nacional avance em um ritmo ainda maior se "trabalharmos bem".
Segundo ele, esses dois últimos pontos devem ser o foco da pasta no futuro, mas afirmou que alcançá-los também depende em um trabalho conjunto entre os três poderes.
A S&P ponderou que a perspectiva para a nota é estável porque a expectativa é que o Brasil tenha um progresso lento no enfrentamento dos desequilíbrios fiscais, mas Haddad afirmou que vê no novo marco fiscal uma garantia de equilíbrio das contas públicas, apesar da possível demora em desfazer "anos de dilapidação" da base fiscal do país.
De acordo com o ministro, o crescimento econômico reduzirá distorções fiscais, mas essa recomposição depende de articulações constantes com o Congresso e o Judiciário.
"Nós queremos uma trajetória de estabilidade. Estamos construindo isso, mas nós dependemos também do Congresso Nacional, não é por decreto que nós vamos conseguir gerar esse equilíbrio. Então, não é uma coisa que acontece do dia para a noite. São dez anos de déficit primário."
(Por Victor Borges)