O alívio visto na quarta-feira nos mercados globais após a indicação de um ritmo de alta mais suave do que o esperado para a política monetária nos Estados Unidos deu lugar, nesta quinta-feira, 5, a uma fuga por risco acentuada que derrubou as bolsas. O mercado digere o cenário apontado tanto pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), nos EUA, quanto pelo Banco Central brasileiro, de inflação alta por mais tempo, muitas incertezas no caminho e, por isso, juros altos por um período mais longo, o que implica num golpe para a atividade mundial.
Com o apetite para risco prejudicado, o Ibovespa recuou mais de 5 mil pontos desde a abertura (108.336,81) até a mínima do dia (103.923,27). Terminou o dia com um recuo de 2,81%, aos 105.304,19 pontos, menor patamar desde meados de janeiro. O tombo segue a derrocada das bolsas americanas, com Nasdaq caindo 4,99% e S&P500 derretendo 3,5%.
"Mercado com muita volatilidade. Ontem teve alívio, hoje já caiu tudo de novo. Temos Ibovespa com queda muito forte, dólar para cima. O que está pesando são as decisões de política monetária, que a princípio foram interpretadas positivamente, mas hoje mudaram os ânimos. Todo mundo digerindo ainda as decisões de ontem. Mercados negativos no mundo inteiro", aponta Wagner Varejão especialista da Valor Investimentos.
Aqui, os papéis tinham queda generalizada: apenas quatro ações tinham alta no índice nesta quinta, endossadas por bons resultados corporativos, destacadamente Gerdau (SA:GGBR4) e Suzano (SA:SUZB3). Com minério e petróleo esboçando um dia de fôlego baixo, o cenário se consolidou para levar o principal índice da Bolsa de volta aos 105 mil pontos.
Nesta quinta, o barril do Brent fechou em alta de 0,69%. Já o minério foi negociado em alta de 0,7% em Qingdao, na China. A alta magra não foi suficiente para contrabalançar o mau humor global para ativos de risco. Assim, os papéis das petroleiras tiveram um dia negativo, após altas robustas na quarta-feira.
Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap, complementa que o cenário macroeconômico é ruim e leva o investidor a fugir do risco. "No comunicado do Fed ainda existem diversas preocupações no radar. Ainda tem risco inflacionário muito alto, o mercado não tem segurança de que expectativas de longo prazo de inflação vão ficar ancoradas. Existe um risco muito grande inflacionário. Toda essa questão da desaceleração da China e da guerra na Ucrânia são coisas que agravam e criam completo desarranjo da cadeia de suprimentos".
Ele lembra ainda que, num cenário de juros mais altos, o custo de oportunidade de ficar com um papel de maior risco nas mãos é pior. "Você tem taxa livre de risco hoje de 12,75% a Selic, não é trivial mudar para um ativo de mais risco", completa.
Especialista em renda variável da Blue3, Dennis Esteves aponta que o movimento de 'risk-off' foi intensificado após o rendimento da T-note de 10 anos nos Estados Unidos chegar ao maior nível desde 2018. "Após o otimismo do mercado de ontem, tivemos uma surpresa, com o rendimento dos Treasuries, que bateram máximas. O aumento na rentabilidade nos Treasuries indica de fato que o mercado americano está reduzindo estímulo. E os investidores vão para ativos de menor risco. O que estamos vendo é esse movimento de risk-off estimulado pelo movimento dos Treasuries nos Estados Unidos", aponta.