Em sessão volátil, com variação de cerca de 3 mil pontos entre a mínima e a máxima, o desempenho positivo de Petrobras (SA:PETR4) (PN +1,41%, ON +1,38%), bancos (BB (SA:BBAS3) ON +2,44%, Bradesco (SA:BBDC4) PN +1,60%) e utilities (Eletrobras ON (SA:ELET3) +2,89%) era o contraponto ao dia negativo em mineração (Vale ON (SA:VALE3) -2,78%) e siderurgia (CSN (SA:CSNA3) -2,73%, Usiminas (SA:USIM5) -2,66%), levando o Ibovespa a reverter o sinal no meio da tarde, em avanço que viria a ser cortado pela decepção, em Nova York, durante a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a primeira decisão de política monetária nos EUA em 2021.
Nesta quarta, Powell mostrou menos ênfase do que em encontros anteriores sobre a necessidade de um grau maior de estímulo fiscal, o que contribuiu para aprofundar as perdas vistas desde cedo no S&P 500 e no Nasdaq, sustando o descolamento do Ibovespa. "A política fiscal que temos visto é forte e podemos dizer que é sustentada", comentou o presidente do Fed. "Tem sido crucial na resposta à crise atual", acrescentou.
O mercado aguardava com expectativa redobrada o comunicado do Federal Reserve e especialmente por novas declarações de Powell, no momento em que se prepara para um pacote fiscal possivelmente menor nos EUA, e mais tardio do que se chegou a antecipar. Nesta quarta, Powell mencionou "longo caminho" para recuperação tanto do emprego como da inflação.
Ao final da sessão, após ter esboçado reação mais forte, o índice da B3 (SA:B3SA3) mostrava perda de 0,50%, aos 115.882,30 pontos, tendo chegado na mínima aos 114.886,51 pontos, o menor nível intradia desde 21 de dezembro (114.730,05), e na máxima aos 117.839,79 pontos.
Assim, costurou nesta quarta-feira a sexta perda consecutiva, no menor nível de encerramento desde 21 de dezembro (115.822,57), acumulando retração de cerca de 9 mil pontos desde o topo histórico do último dia 8 de janeiro (125.076,63 no fechamento e 125.323,53 no intradia). Reforçado, o giro somou nesta quarta R$ 39,0 bilhões e, no ano, as perdas do Ibovespa estão agora em 2,63%, com ajuste negativo de 1,28% na semana.
Além das habituais preocupações com a situação fiscal e o teto de gastos, novos fatores de risco começam a emergir no horizonte. Nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo direto aos caminhoneiros para que não realizem paralisação na próxima semana, sem contudo acenar concretamente para a demanda da categoria, relacionada ao preço do diesel. Nesta quarta, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) decidiu apoiar a greve dos caminhoneiros marcada para o dia 1º de fevereiro, próxima segunda-feira.
O interno se soma assim ao externo. "Os investidores estão mais cautelosos, com possíveis impactos econômicos das novas variantes do coronavírus e os novos lockdowns gerados pela escalada de novos casos pesando no 'reflation trade', movimento que estava forte no fim do ano passado com a aposta no fim das restrições e na recuperação após a vacina", observa Júlia Aquino, especialista da Rico Investimentos.
No Brasil como no exterior, a progressão da pandemia e a lentidão da imunização em torno do mundo, com disponibilidade de vacinas abaixo da demanda, permanecem como preocupação central para os investidores, em contraponto à ampla disponibilidade de liquidez. Ao anunciar a manutenção, conforme esperado, das taxas de juros dos EUA, o Fed observou que o ritmo de recuperação da atividade e do emprego tem moderado nos últimos meses, e que a crise de saúde ainda representa risco considerável à perspectiva econômica. "Manteremos a acomodação até atingirmos a meta, com inflação acima de 2% por um tempo", apontou o BC americano no comunicado sobre a decisão de política monetária.
Na ponta negativa do Ibovespa na sessão, destaque para queda de 5,89% em Suzano (SA:SUZB3), à frente de Totvs (SA:TOTS3) (-4,55%) e Intermédica (-3,78%). No lado oposto, Cielo (SA:CIEL3) subiu 13,35%, seguida por Azul (SA:AZUL4) (+5,49%) e Eztec (SA:EZTC3) (+4,04%).