Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta nesta quarta-feira, partindo para o feriado na máxima em sete meses, após números de inflação reforçarem apostas de que a data de início de cortes da taxa básica de juros no Brasil pode ser antecipada.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,77%, a 115.488,16 pontos, ajudado ainda pelo desempenho robusto de Petrobras e Vale. Na máxima, marcou 115.978,12 pontos.
O volume financeiro no pregão somou 28,7 bilhões de reais.
Na quinta-feira, não haverá negociação no mercado de renda variável da B3 em razão do feriado de Corpus Christi.
De acordo com o IBGE, o IPCA subiu 0,23% em maio, após alta de 0,61% em abril, acumulando em 12 meses aumento de 3,94%. Expectativas compiladas pela Reuters apontavam elevação de 0,33% e 4,04%, respectivamente.
O resultado abaixo do esperado "reforça nossa expectativa de corte em agosto", afirmou o chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America (NYSE:BAC), David Beker.
Números recentes mostrando arrefecimento da inflação no país já vinham desencadeando uma migração de apostas quanto ao início do ciclo de flexibilização pelo BC, da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro para a de agosto.
Na visão de alguns profissionais do mercado, um retorno dos estrangeiros para a bolsa e um rali de fato dependem de uma maior visibilidade sobre a queda dos juros no país. A taxa está atualmente em 13,75% ao ano.
"O resultado (do IPCA) reforça a dinâmica mais benigna para os preços no curto prazo", afirmou a equipe de Economia do Bradesco, chefiada pelo economista Fernando Honorato Barbosa, em relatório a clientes nesta quarta-feira.
Eles destacaram que, ainda que a maior parte da surpresa e da desinflação venha de itens mais voláteis, os núcleos também têm perdido força na margem, em menor ritmo.
"Nesse cenário, mantemos nossa avaliação para o ciclo de juros, com Selic atingindo 12,25% ao final do ano, mas reconhecemos que a data de início de cortes pode ser antecipada", afirmaram os economistas do banco.
A curva de juros precificava na tarde desta quarta-feira, cerca de 80% de chances de o Copom, em sua reunião de agosto, cortar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Os outros 20% precificavam manutenção da taxa em 13,75% ao ano em agosto.
Citando a inflação corrente melhor do que o esperado e a trajetória dos preços para os próximos meses, a equipe do Credit Suisse (SIX:CSGN) chefiada por Solange Srour revisou sua projeção para o início do ciclo de flexibilização de setembro a agosto.
"Agora esperamos um primeiro corte de 25 pontos-base em agosto, uma taxa de 12,00% no final de 2023 e uma taxa terminal de 9,00% em 2024."
Eles também afirmaram esperar que o Conselho Monetário Nacional (CMN) não altere a meta de inflação na reunião deste mês, que deve ancorar as expectativas do mercado, conforme relatório enviado a clientes nesta quarta-feira.
No exterior, Wall Street fechou sem uma tendência única, conforme agentes seguem calibrando as expectativas para a reunião de política monetária do Federal Reserve na próxima semana. O S&P 500 fechou em baixa de 0,38%.
Destaques
- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) subiu 2,92%, a 28,87 reais, ajudada pela alta dos preços do petróleo no exterior. Além disso, o Morgan Stanley (NYSE:MS) elevou a recomendação das ações da companhia para "overweight", bem como preço-alvo dos ADRs (recibos de ações negociados nos Estados Unidos) de 12,5 para 15,5 dólares. A companhia também divulgou que as suas unidades de refino atingiram em maio Fator de Utilização Total (FUT) de 95%, o melhor índice mensal desde julho de 2015.
- VALE ON (BVMF:VALE3) avançou 1,58%, a 68,67 reais, descolada do viés mais negativo do setor de mineração e siderurgia, afetado em parte por movimento de rotação de papéis. CSN MINERAÇÃO ON (BVMF:CMIN3) caiu 3,35%, CSN ON (BVMF:CSNA3) perdeu 2,27% e USIMINAS PNA (BVMF:USIM5) recuou 0,68%. GERDAU PN (BVMF:GGBR4) descolou assim como Vale e subiu 0,76%.
- ENEVA (BVMF:ENEV3) ON mostrou elevação de 4,57%, a 12,14 reais, no segundo dia de recuperação da empresa de energia, após testar uma mínima intradia desde meados de maio na segunda-feira.
- YDUQS ON (BVMF:YDUQ3) encerrou em alta de 3,91%, a 16,74, enquanto COGNA ON (BVMF:COGN3) registrou acréscimo de 1,3%, a 3,11 reais. Analistas do Itaú BBA ajustaram estimativas para as companhias citando um começo de ano positivo e elevaram os preços-alvo das ações de Yduqs de 11 para 18 reais e de Cogna de 3 para 3,50 reais. No entanto, reiteraram recomendação "market perform", avaliando que o ambiente macroeconômico incerto pode limitar a atuação das duas empresas de educação no segmento presencial no curto prazo.
- CARREFOUR ON(BVMF:CRFB3) avançou 3,46%, a 11,36 reais, tendo como pano de fundo relatório de analistas do Bradesco BBI reforçando recomendação "outperform" para a companhia e para a rival Carrefour, embora tenha cortar o preço-alvo de ambos, respectivamente, de 19 para 17 reais e de 19 para 16 reais. ASSAÍ ON (BVMF:ASAI3) cedeu 0,16%, a 12,78 reais, tendo ainda no radar ruídos envolvendo oferta de ações.
- B3 ON (BVMF:B3SA3) valorizou-se 2,29%, a 14,74 reais endossada por relatório de analistas do Itaú BBA elevando estimativas para a operadora da bolsa paulista e reiterando recomendação "outperform", com preço-alvo de 17 reais. Eles destacaram que o humor do mercado no Brasil melhorou claramente ultimamente e a B3 é uma ótima escolha para se ter em uma carteira, com espaço para uma revisão para cima das estimativas de lucros e múltiplos.
- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) fechou com acréscimo de 0,29%, a 27,42 reais, enquanto BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) cedeu 0,06%, a 16,58 reais.
- IRB BRASIL ON (BVMF:IRBR3) recuou 6,24%, a 38,29 reais. A resseguradora aprovou em reunião na semana passada a terceira emissão de debêntures da companhia, no valor de 250 milhões de reais, que serão usados para "auxiliar na manutenção dos índices regulatórios da companhia, em especial de cobertura de suas provisões técnicas".
- MRV ON (BVMF:MRVE3) caiu 1,02%, a 11,69 reais, em sessão de ajustes, após forte valorização da construtora desde o final de abril, tendo encerrado na véspera na máxima desde outubro de 2022. A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira a medida provisória que recria o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e o texto será agora encaminhado ao Senado, que precisa aprová-lo até a próxima semana para que a MP não perca a validade.