Investing.com – Após engatar alta de dois dígitos no mês de novembro, analistas estão animados com um rali no fim de ano como presente de Natal. Na opinião dos especialistas consultados pelo Investing.com Brasil, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores brasileira, poderia atingir recorde histórico ainda neste ano.
A pausa na alta dos juros nos Estados Unidos, com dados de inflação mostrando arrefecimento, o ciclo de afrouxamento monetário no Brasil, maior entrada de estrangeiros e um valuation considerado atrativo dos ativos locais estão entre os possíveis gatilhos para esse cenário – o que possibilitaria a busca da máxima histórica.
O ponto máximo do Ibovespa ocorreu no pregão de 7 de junho de 2021, quando atingiu 131.190 pontos. O recorde de fechamento também foi em 7 de junho de 2021, quando encerrou a sessão a 130.776 pontos.
CYBER MONDAY Prorrogada: Tenha mais desconto no plano bianual com cupom “investirmelhor”
Vem recorde histórico no Ibovespa?
É possível que o Ibovespa atinja um recorde histórico ainda neste ano, espera Daniel Geweh, chefe de estratégia de ações para Brasil do Itaú BBA. Em sua visão, a bolsa brasileira está com valuation atraente, possui melhora na tendência de lucros e há uma realocação de direcionamento dos ativos para países emergentes. A pausa nas altas dos juros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também é um driver positivo.
O Itaú BBA não chegou a revisar o target deste ano, com previsão divulgada anteriormente de 128 mil pontos, pois definiu pela projeção revisada para o ano que vem. “No curto prazo, estamos com uma cabeça positiva do mercado. A bolsa brasileira está muito atraente em valuation. Mesmo após essa alta, em termos consolidados, ela negocia cerca de oito vezes lucro, o que representa um desconto de 20% em relação ao histórico. O mundo negocia a quase 0% de desconto do histórico. Tem o desconto relativo e, em termos absolutos, ela é barata”, compara o estrategista.
Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, concorda. “Ao observarmos o preço de fechamento de novembro, o índice precisaria subir aproximadamente 3% para alcançar o seu topo histórico, situado na região de 131 mil pontos”.
Sene acredita que essa valorização seja alcançável em dezembro diante da tendência de alta na bolsa, e, do ponto de vista macroeconômico, com a continuidade do cenário positivo para ativos de risco.
“Isso é respaldado pela queda nas taxas de juros futuras, tanto no Brasil quanto no exterior, a perspectiva de que o Fed encerrou o ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos e uma robusta entrada de capital estrangeiro na bolsa brasileira. Além disso, o timing é favorável, devido à sazonalidade positiva associada ao mês de dezembro. Desde 1992, registramos apenas 10 dezembros com desempenho negativo, em comparação com 21 positivos”, aponta Sene.
A política monetária americana pode ditar esses rumos, pondera Jennie Li, estrategista de ações da XP (BVMF:XPBR31). Se o mercado seguir acreditando que o início de ciclo de corte de juros está chegando mais perto e as taxas de juros continuarem caindo, “isso pode ser positivo não só no Brasil, mas ativos de risco de forma geral, mas o oposto também”, ressalta.
Li julgar que se os dados econômicos americanos vierem pior do que o esperado ou se o Federal Reserve adotar um tom mais duro, com a proximidade de sua reunião de política monetária onde definirá os juros em dezembro, o cenário pode se reverter.
A XP não indicou novo target para esse ano, somente para o ano que vem. A projeção divulgada em outubro havia sido reduzida de 133 mil pontos para 128 mil pontos para o fim deste mês.
A Principal Claritas, em relatório, diz que neste mês de dezembro as atenções estarão voltadas à condução da política monetária, assim como no cenário de atividade chinesa. Considerando a pauta local, as discussões no Congresso das medidas para aumentar a arrecadação e a meta fiscal de 2024 seguem no radar. “Ainda, os dados de inflação e atividade serão decisivos para determinar tanto o ritmo de queda da taxa de juros nos próximos meses como a taxa Selic terminal deste ciclo de afrouxamento monetário”.
Novembro com alta de dois dígitos
Novembro foi um mês de destaque, com alta de 12,54%. O analista Einar Rivero reforça que o índice apresentou a melhor performance para o mês de novembro desde 2020 e é o terceiro melhor registro desde 2000. “Analisando mais amplamente, desde o ano 2000, novembro de 2023 é o terceiro melhor mês para o Ibovespa”.
Apenas sete ações da carteira fecham o mês no negativo, detalha o analista: “3R Petroleum (BVMF:RRRP3) liderou as quedas, registrando uma diminuição de -7,58%, seguida por Pão de Açúcar (BVMF:PCAR3), com -7,46%, e São Martinho (BVMF:SMTO3) fechando as três maiores quedas, com -6,57%. No campo positivo, destacam-se Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) como a ação de melhor desempenho, com 51,88%, seguida por Marfrig (BVMF:MRFG3), com 50,46%, e CSN (BVMF:CSNA3), que obteve a terceira maior valorização, com 46,31%”.
O mês de novembro também foi de recorde no volume líquido de entrada de investidores estrangeiros na B3 (BVMF:B3SA3), totalizando R$ 18,2 bilhões, a melhor performance desde março de 2022, conclui o analista.
Li, da XP, completa que em novembro, não somente a bolsa brasileira subiu, mas mercados internacionais, diante de um movimento mais otimista, com maior apetite por risco, devido à narrativa de soft landing, ou pouso suave da economia americana. A divulgação de dados nas últimas semanas indicaria uma desaceleração sem entrar numa recessão e houve uma queda nas taxas de juros de longo prazo.
Em relatório, a Principal Claritas concorda que a alta no mercado local seguiu o ambiente global de maior propensão ao risco com recuo nas projeções de taxas de juros no Estados Unidos. Assim, o bom humor no cenário global teria sido “determinante para impedir que incertezas no campo doméstico atrapalhassem o desempenho dos ativos”, pondera a Claritas, ao indicar que o mês foi de dúvidas a respeito do cenário fiscal brasileiro, apesar do processo de desinflação.
O que esperar para 2024
O estrangeiro pode ter um olhar mais atento aos mercados emergentes, incluindo os brasileiros, no ano que vem, com melhor apetite ao risco, no entendimento dos estrategistas consultados pelo Investing.com Brasil.
A XP trabalha com a projeção revisada de 136 mil pontos para 142 mil pontos para o final de 2024. “A gente mantém uma visão relativamente construtiva pro Brasil, especialmente quando a gente compara com as outras bolsas globais, a gente vê que o Brasil tem valores bastante descontados ainda, com múltiplos abaixo da média histórica, também abaixo das dos outros índices globais”, compara Li.
Na opinião da XP, caso o fluxo de estrangeiro siga melhorando, com continuidade do ciclo de queda juros a nível local, o desempenho da bolsa brasileira traz boas oportunidades e tem tendências favoráveis.
O Itaú BBA projeta Ibovespa a 145 mil pontos em 2024, o que, no entendimento do banco, indicaria a uma precificação de nove vezes o lucro, ainda abaixo da média histórica, que é de onze vezes. Com a tendência de melhora nos lucros de companhias esperado pelo banco, o estrategista avalia que investidores de mercados emergentes gostam de comprar crescimento. “Acreditamos que o lucro pode crescer em duplo dígito em 2024. E o quarto trimestre, indo nessa direção, já aponta um crescimento de lucro”, afirma, ao mencionar que analistas têm revisado suas projeções de lucros para a bolsa brasileira.
Para Sene, da Nova Futura, notícias positivas do lado fiscal no mercado doméstico podem impulsionar o Ibovespa no próximo ano. A redução do endividamento das famílias e a melhoria na inadimplência também podem ser fatores favoráveis para os setores financeiro e de consumo, assim como resultados mais positivos no setor de varejo. Considerando o mercado externo, a confirmação de que o Fed pode iniciar um ciclo de corte de juros também pode ser um vento favorável. “O alívio no mercado imobiliário chinês, por sua vez, pode ser benéfico para as empresas do setor de metais, que têm um peso importante no índice”.
