Desde o exterior, o mercado voltou a se agarrar na percepção de que o desgaste de 21 dias de conflito armado esteja aproximando para valer Rússia e Ucrânia de negociação que resulte ao menos em um cessar-fogo, o que estimulou o apetite por risco desde cedo, com ganhos que se espraiaram da sessão na Ásia às da Europa e dos Estados Unidos. Aqui, acompanhando Nova York, os ganhos na B3 (SA:B3SA3) chegaram a se acomodar após a decisão de política monetária do Federal Reserve, que confirmou o aumento de 0,25 ponto porcentual na taxa de juros de referência, conforme esperado - mas um dos integrantes do comitê de política monetária americano, James Bullard (Fed de St. Louis), votou por um aumento maior, de 0,50 ponto.
Ao final, o Ibovespa mostrava alta de 1,98%, a 111.112,43 pontos, interrompendo série negativa que já durava quatro sessões, nas quais acumulou perda de 4,33%. Nesta quarta, oscilou entre mínima de 108.957,59 pontos, da abertura, e máxima de 111.183,45 pontos, com giro financeiro reforçado a R$ 48,4 bilhões, em dia de vencimento de opções sobre o índice. Na semana, a referência da B3 ainda cede 0,54% e, no mês, 1,79% - no ano, os ganhos agora estão em 6,00%.
Mais cedo, os ganhos na Ásia foram bem superiores aos vistos no Ocidente nesta quarta-feira, "com a promessa de que o governo de Pequim tomará medidas para garantir a sustentação da economia", observa em nota a Nova Futura Investimentos. Em Hong Kong, o índice Hang Seng fechou em alta de 9,08%.
"O vice-premiê chinês, Liu He, afirmou que o governo adotará políticas favoráveis aos mercados financeiros e fará esforços para evitar a contaminação dos riscos no setor imobiliário. Também veio a informação de que há negociações entre os órgãos reguladores do mercado de capitais da China e dos EUA sobre ADRs de empresas chinesas em Nova York", aponta a Nova Futura.
"O governo chinês tem dito que fará 'whatever it takes' (o que for preciso) para recuperar o mercado, a economia. Se a China vai bem, mesmo com os Estados Unidos pisando no freio, isso ajuda o Brasil, por nossa correlação com commodities. Pela manhã, o minério de ferro chegou a recuperar 10% (em preço). Aqui e nos Estados Unidos, estamos vendo revisões para cima nos juros e para baixo na expectativa de crescimento econômico", diz Rodrigo Jolig, sócio e CIO da Alphatree Capital.
Ele chama atenção que, nas revisões de projeções anunciadas nesta tarde, o Federal Reserve elevou, no gráfico de pontos, de 2,50% para 2,75% a expectativa para os juros de referência americanos no final do ciclo. "Nominalmente, os juros de 10 anos dos Estados Unidos chegaram a ficar abaixo dos de 5 anos, houve uma 'flateada' na curva. O Fed será mais rápido na subida de juros e mais 'freio de mão puxado' na redução do balanço, uma combinação sem precedentes."
"O aumento de hoje dos 'fed funds' para o patamar de 0,25% a 0,50% não surpreendeu o mercado, mas o balanço do Fed, que está em US$ 9 trilhões, é fator de atenção, pelo efeito que a redução do balanço tem especialmente sobre as taxas de juros longas. A revisão para cima das projeções do Fed para a inflação de 2022 e 2023, ambas se afastando da meta assim como a de 2024, mostra que o cenário inflacionário não é trivial por lá", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. "Isso pode fazer com que na próxima reunião, em maio, o Fed possa já apertar o passo, leitura que contribuiu para que os mercados reduzissem um pouco o ímpeto antes da entrevista do Powell (Jerome Powell, presidente do BC americano)", acrescenta a economista.
Aqui, embora a decisão tenha vindo em linha com o que se esperava, o Ibovespa perdeu quase 640 pontos logo após o Federal Reserve elevar o juro em 0,25 ponto porcentual, para faixa de 0,25% a 0,50%. No entanto, além de um membro do Fed ter votado por aumento maior, de 0,50 ponto, houve a indicação, no comunicado sobre a decisão, de que os dirigentes esperam começar a reduzir o balanço patrimonial em uma das próximas reuniões. Na entrevista coletiva após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, cravou que, em maio, na próxima reunião do conselho de política monetária (Fomc), a instituição começará a reduzir o balanço de ativos.
De acordo com o gráfico de pontos divulgado nesta quarta pelo Federal Reserve, sete integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) projetam que o juro básico nos Estados Unidos ficará pelo menos em 2,0% ao ano ao fim de 2022.
Com o petróleo se acomodando desde a terça-feira abaixo de US$ 100 por barril, e o presidente Jair Bolsonaro ainda mantendo a carga sobre os dirigentes da estatal para que revejam os aumentos de dois dígitos determinados na semana passada após o barril do Brent, no pior momento da guerra na Ucrânia, ter chegado a ficar bem perto de US$ 140, Petrobras (SA:PETR4) (ON +0,09%, PN -0,87%) teve desempenho negativo na maior parte da sessão, sem sinal único no fechamento.
Também entre os setores de maior peso no Ibovespa, os grande bancos tiveram bons ganhos no encerramento, com destaque para Itaú (SA:ITUB4) PN (+1,95%) e Santander (SA:SANB11) (+2,58%), à espera do anúncio de aumento da Selic nesta noite, com consenso para alta de 1 ponto porcentual. Vale ON (SA:VALE3) fechou em alta de 2,43%, com o suporte proporcionado pela alta de 6,65% nas cotações do minério em Qingdao, a US$ 145,24 por tonelada, e de 5,17% em Dalian, também na China, a US$ 126,66 por tonelada.
Na ponta do Ibovespa, CVC (SA:CVCB3) (+17,15%), à frente de Locaweb (SA:LWSA3) (+10,33%), Banco Inter (SA:BIDI4) (+9,94%), Ecorodovias (SA:ECOR3) (+8,88%) e Natura (SA:NTCO3) (+7,29%). No lado oposto, Yduqs (SA:YDUQ3) (-10,48%), Cielo (SA:CIEL3) (-3,11%), 3R Petroleum (SA:RRRP3) (-2,55%) e PetroRio (SA:PRIO3) (-2,32%).