O Ibovespa tenta retomar a marca dos 107 mil pontos, quando a máxima mais cedo atingiu 107.033,14 pontos (alta de 0,74%), na esteira da redução da queda em Nova York. Com isso, tenta apagar parte da queda de mais de 2% da véspera.
Apesar da diminuição do ritmo, contudo, prevalece o recuo lá fora. "Nada mudou no cenário. Há muita incerteza em relação à China, que segue com sua política de covid-zero, fechando alguns territórios, inclusive de cidades portuárias, o que acaba elevando os problemas logísticos. Claro, isso gera mais inflação", avalia Eduardo Telles, especialista em renda variável da Blue3.
Segundo Telles, a direção oposto do índice Bovespa ante Nova York reflete em parte o fato de o indicador ter sofrido mais principalmente no mês passado. "Mantém essa ideia da questão dos múltiplos, com empresas com o PL preço por ação perto de 3. Pode ser uma correção", afirma, ao referir-se ao fato de que algumas ações estão com preços atrativos.
Às 11h03, o Ibovespa subia 0,56%, aos 106.838 pontos. Petrobras (SA:PETR4) tinha alta de 1,19% (PN) e Vale ON (SA:VALE3), de 2,19%.
Porém, o quadro segue incerto, diz Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing. "A inflação está estourando no mundo e alguns bancos centrais não fazendo nada BCE. Isso pode esfriar o mercado", afirma.
"Difícil pensar que apenas um papel consiga levantar o mercado inteiro", acrescenta, ao referir-se principalmente à aprovação do processo de privatização da Eletrobras (SA:ELET3), cujas ações sobem acima de 2,5%. Para Eboli, o fato de o Brasil ter saído na frente em relação à alta de juros deixa-o em estado um pouco menos desconfortável. "Isso ajuda a não perder tanto fluxo."
Apesar das incertezas em relação aos efeitos da China sobre a economia mundial, os papéis ligados ao minério de ferro, que subiu hoje por lá, em recuperação, sobem, ajudando o Ibovespa.
Contudo, a notícia de adoção de medidas restritivas em alguns territórios chineses para conter a covid-19 e lucros abaixo do esperado de grandes varejistas dos Estados Unidos realimentam as preocupações com inflação e, ao mesmo tempo, com o desaquecimento mundial. A possibilidade de uma estagflação pressiona ainda mais os bancos centrais a agirem de maneira agressiva na condução das suas políticas monetárias ou comecem a agir, caso do Banco Central Europeu (BCE).
Ainda sem subir juros, dirigentes do BCE vêm aparentemente preparando o terreno para que a instituição comece a elevá-los a partir de julho, após a conclusão do programa de compras de ativos prevista para o início do terceiro trimestre. Na ata do BCE divulgada hoje, os membros amplamente expressaram preocupação com a inflação elevada. "Alguns dirigentes julgaram importante agir sem atraso indevido", cita o documento.
A maioria das bolsas americanas caem e, na Europa, o recuo supera 1% em quase todos os índices. O comportamento dos mercados reflete basicamente a preocupação com o crescimento global, afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani. "Neste sentido, os sinais do Fed Federal Reserve, banco central dos EUA de mais altas juros pioram o quadro. Além disso, os balanços corporativos estão vindo mais fracos e aumentaram as duvidas sobre a reabertura da economia", avalia em comentário matinal a clientes e à imprensa.
Como reforça a MCM Consultores, alertas de grandes empresas americanas do setor de consumo de que seus lucros poderão ser menores, por conta das pressões de custos, continuam a ter impacto negativo sobre os preços das ações e commodities.
Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 2,34%, aos 106.247,15 pontos, interrompendo cinco pregões seguidos de valorização. Com isso, voltou a acumular perda no mês. Agora, é de -1,09%. O temor no mercado é que o indicador desça ainda mais, perdendo a importante marca psicológica dos 103 mil pontos e em seguida, a dos 100 mil pontos.