SÃO PAULO (Reuters) - O setor produtor de cimento do Brasil piorou sua estimativa de vendas em 2017 nesta segunda-feira, pressionado pela crise econômica atravessada pelo país e falta de confiança de investidores diante das incertezas políticas em torno do presidente Michel Temer.
A entidade que representa o setor, Snic, ampliou a faixa de previsão de queda nas vendas de 5 a 7 por cento definida no início do ano para 5 a 9 por cento. A ampliação na expectativa negativa ocorreu apesar da manutenção da tendência de desaceleração na queda das vendas.
"O cenário de referência de queda de 6 por cento passou a 7 por cento... Ainda que temos uma desaceleração na queda, a incerteza política fez com que a gente ampliasse a queda", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna, à Reuters.
Ele se referiu ao futuro do governo de Michel Temer. Nesta segunda-feira, o relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), disse que a acusação feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) não é inepta e votou por sua admissão.
Temer é acusado de corrupção passiva no âmbito da delação premiada de executivos da J&F, holding que controla a JBS (SA:JBSS3).
"Não se tem crédito, aumento de renda, confiança, que basicamente seria o componente fundamental para investimento em obras públicas. Estas ficam ameaçadas em função da instabilidade política", disse Penna.
Em junho, as vendas totais da indústria de cimento do Brasil caíram 8,7 por cento sobre o mesmo período do ano passado, para 4,454 milhões de toneladas. Sobre maio, houve queda de cerca de 2 por cento.
No acumulado do primeiro semestre, as vendas do setor tiveram queda de 9 por cento, em comparação com o primeiro semestre de 2016, a 26,034 milhões de toneladas.
Segundo o presidente do Snic, o índice de capacidade ociosa do setor em junho se manteve em 45 por cento, algo que deve se aproximar a 50 por cento até o final do ano, mantida a nova projeção da entidade para 2017. Em 2016, o setor vendeu 57,4 milhões de toneladas de cimento.
"Temos um volume imenso de imóveis retomados por bancos e as próprias incorporadoras ainda têm estoques muito grandes... Se tiver algum movimento de recuperação, não acredito que terá fôlego diante da instabilidade política", disse Penna.
Ele afirmou que a desaceleração nas quedas nas vendas em cada mês na comparação com o mesmo período do ano passado ocorre diante de iniciativas pontuais que incluem medida do governo federal para concessão de crédito para reformas, liberação de saques de contas inativas do FGTS e alguns movimentos municipais de obras como corredores de ônibus.
(Por Alberto Alerigi Jr.)