Investing.com – Os fundos de investimentos registraram resgates líquidos superiores às aplicações no ano passado, em meio a um cenário macroeconômico ainda cauteloso no mercado local e internacional. Com juros em tendência de queda, mas ainda em patamares elevados, especialistas consultados pelo Investing.com Brasil apontam que a atratividade ainda pode ser dificultada em 2024.
Os fundos de investimento registraram resgates líquidos de R$ 127,9 bilhões em 2023, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Esse é o segundo ano seguido com saldo negativo. No entanto, o movimento de saídas foi mais intenso no primeiro semestre ante ao segundo, com R$122,3 bilhões na primeira metade do ano e apenas R$5,6 bilhões na segunda. Mesmo com o saldo negativo, o número de fundos ultrapassou a marca de 30 mil em 2023.
O juro esteve muito alto em 2023 e o evento da Light (BVMF:LIGT3) e a Americanas (BVMF:AMER3) assustaram os investidores nos fundos de crédito, junto com a marcação a mercado na renda fixa, segundo Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. Com o cenário, os investidores preferiram investimentos como LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) em sua visão.
“O juro ainda está elevado. Acredito que vai atrair novamente os investidores quando estiver ao redor de 10% ou menos. Pelos dados do dia 08 de janeiro, o investidor institucional e pessoa física continuam sacando, enquanto somente o investidor externo continua entrando na bolsa”, destaca Bresciani.
Bruna Allemann, líder da mesa de investimentos internacionais da Nomos, avalia que o cenário de 2023 foi desafiador para os fundos de investimentos e recorda que os resgates vinham inclusive sendo recorrentes desde o ano anterior. Allemann acredita que mudanças no cenário econômico do Brasil e as preferências dos investidores podem justificar de primeira essa movimentação, mas não somente.
Enquanto o começo do ano passado foi de incertezas em relação às políticas de juros do Banco Central, o ambiente econômico global também levou à cautela entre os investidores. “A Selic ainda estava em um patamar elevado, que é muito favorável para a migração dos investimentos para títulos de renda fixa, especialmente aqueles isentos de imposto de renda – em contrapartida dos custos + come cotas dos fundos de investimentos de renda fixa, multimercados e cambiais”, aponta, ao afirmar que com boa remuneração na renda fixa, sem taxas de administração e performance, haveria uma competição praticamente desleal entre estes produtos.
A partir do segundo semestre, com o ciclo de cortes na taxa de juros básica da economia brasileira e perspectiva de diminuição na dos EUA, diminui a aversão ao risco. “Então, parte dos resgates, inclusive multimercados que vinham performando mal em sua grande maioria, começou a levar os investidores para bolsa, inclusive americana”, completa Allemann.
Para 2024, a especialista considera o cenário mais favorável, diante da normalização das políticas monetárias e uma maior estabilidade econômica. “Mas isso não quer dizer que as gestoras terão um enorme trabalho para convencer os investidores que suas estratégias irão gerar rendimentos superiores a outras oportunidades”.
Segundo Allemann, as taxas de juros mais baixas podem ajudar, ao mesmo tempo que políticas monetárias mais amenas e estabilidade podem levar esse dinheiro para a bolsa de valores.
Fatores que afetam a indústria
A acessibilidade, potenciais de retorno e custos menores afetam a indústria, segundo Allemann, que avalia que bons fundos ainda possuem valores mínimos relativamente altos para a grande parte dos investidores brasileiros, que estariam no estágio inicial de educação financeira para diversificação das carteiras de investimentos.
Os investidores retornarão aos fundos a partir do momento que tiverem retornos superiores à renda fixa tradicional, afirma Allemann, e trabalharem para competir com as taxas que não existem nas aplicações diretas. “Acho que o que vai ditar para onde essa tendência vai em 2024 é mais uma questão de custo de oportunidade. Senão podemos começar a enxergar que eles podem cada vez mais se tornarem menos atrativos para o investidor de varejo”.
Enquanto isso, para investidores private, Allemann entende que a estabilidade do Brasil, fuga de capital para renda fixa e fundo mútuos internacionais, que possibilitam alocação direta no exterior, contemplam estruturas que não pagam taxa de administração e nem performance e ainda ganham atratividade se o dólar continuar baixo.