Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Conselho de Administração da Petrobras (BVMF:PETR4) aprovou nesta quinta-feira Jean Paul Prates como presidente interino da empresa até abril, quando o ex-senador petista deve ser empossado em definitivo no comando da petroleira estatal.
Consultor de energia de longa data que se tornou político, Prates foi escolhido para o comando da Petrobras pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e deve liderar uma mudança estratégica para voltar a empresa a mais projetos de energia renovável e investimentos em refino.
Prates foi aprovado por unanimidade pelo conselho da estatal, onde também ocupará um assento, disse a Petrobras em comunicado ao mercado.
Uma fonte familiarizada com o assunto disse que o novo presidente nomearia candidatos para a diretoria na sexta-feira, depois de se encontrar com Lula ainda nesta quinta para começar a discutir indicações ao conselho pela União, dentre outros temas.
Dentre os nomes cotados para a diretoria, a Reuters publicou na semana passada que Sérgio Caetano Leite, antigo sócio de Prates em empresas, é cogitado para a diretoria financeira, segundo fontes.
As ações negociadas na bolsa paulista B3 (BVMF:B3SA3) caíam cerca de 3% nesta tarde após a confirmação de Prates, tornando-se uma das maiores quedas do Ibovespa, que operava próximo da estabilidade.
Os mercados temem que Prates mude drasticamente a política de preços de combustíveis da empresa, que atualmente segue indicadores internacionais, como câmbio e preços globais do barril do petróleo, e que já foi criticada por Lula diversas vezes.
Analistas, no entanto, não acreditam em uma mudança imediata nos rumos da política de preços.
Além de limitações previstas em estatuto para que a Petrobras contribua com políticas públicas, uma ruptura brusca na trajetória de preços de diesel e gasolina atualmente poderia desequilibrar o mercado e causar riscos de desabastecimento, uma vez que o país é muito dependente das importações desses produtos.
Prates vem defendendo o fim da aplicação da paridade de importação para a formação dos preços da petroleira, mas diz que a empresa ainda assim seguirá indicadores internacionais. Também já declarou anteriormente que o governo Lula não adotaria uma abordagem agressivamente intervencionista na Petrobras.
Os investidores também questionam a futura política de dividendos da empresa, já que a Petrobras fez grandes pagamentos nos últimos trimestres --volumes maiores que gigantes globais do setor-- e Prates já afirmou que a empresa é de longo prazo e que e não poderia ficar apenas explorando o pré-sal e distribuindo dividendos, sem pensar no que outras petroleiras estão fazendo.
Analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS) disseram que manteriam uma classificação neutra para a Petrobras, apesar de uma valuation atraente, "já que reconhecemos o aumento da incerteza sobre as políticas a serem adotadas nos próximos anos".
"Esperamos que os participantes do mercado observem atentamente as declarações iniciais do Sr. Prates sobre a política de preços, dividendos e estratégia futura da Petrobras", disse Regis Cardoso, analista do Credit Suisse (SIX:CSGN), em nota a clientes.
Prates, que foi senador nos últimos quatro anos, será aprovado em definitivo por acionistas em assembleia geral.
"O desafio que ele (Prates) enfrenta é tentar conciliar uma visão de uma Petrobras moderna, gerando retorno para acionistas, com uma visão mais intervencionista do novo governo", disse Paulo Valois, sócio do Schmidt Valois Advogados.
No início do dia, o Diário Oficial do Senado publicou a renúncia de Prates de seu mandato, que terminaria neste mês.
Prates substituiu o diretor executivo de Desenvolvimento da Produção da Petrobras, João Henrique Rittershaussen, que atuava também como CEO interino desde 4 de janeiro, depois que Caio Paes de Andrade renunciou ao cargo de alto executivo.
(Reportagem adicional de Gabriel Araujo)