Os juros futuros fecharam o dia em queda, refletindo a piora na percepção de risco de recessão global traduzido na queda do rendimento dos Treasuries e de outras curvas mundo afora, que pressionou especialmente a ponta longa. Internamente, o investidor mantém no radar o noticiário em torno do projeto de desoneração do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica.
A taxa do DI para janeiro de 2023 fechou a etapa regular em 13,28%, de 13,334% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2024 caiu de 12,991% para 12,87% (mínima), e a do DI para janeiro de 2025, de 12,38% para 12,22%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,985%, voltando a rodar abaixo de 12%. Na quarta-feira, o ajuste foi de 12,17%.
As taxas estiveram em baixa desde a abertura, com mínimas à tarde, quando o ambiente externo testava melhora, e mesmo com os preços do petróleo se firmado em alta na segunda etapa. Mas, no geral, a situação da covid na China e os sinais de varejo fraco emitidos pela Target (SA:TGTB34)(NYSE:TGT) e Walmart (SA:WALM34)(NYSE:WMT) continuaram alimentando aversão ao risco, na medida em que a inflação advinda dos gargalos logísticos também não dá trégua e aumenta o desafio dos BCs. A fuga para a qualidade dos títulos americanos pressionou os yields para baixo e o dólar teve queda generalizada, até ante moedas emergentes, com o câmbio aqui caindo abaixo de R$ 4,90 nas mínimas.
Na ata da sua reunião desta quinta, o Banco Central Europeu (BCE) mostrou preocupação com a inflação alta, com alguns dirigentes considerando importante agir sem atraso indevido para demonstrar o compromisso com a estabilidade de preços. A percepção entre os analistas é de que o BCE deve começar a apertar sua taxa de juros na reunião de julho e com dose inicial mais leve.
Enquanto o BCE nem começou, a autoridade monetária brasileira já está finalizando seu ajuste e com a economia aparentemente ainda resiliente ao aumento de 10 pontos porcentuais de alta da Selic promovido até aqui. Mesmo com as expectativas de inflação ainda muito longe das metas, a percepção é de que boa parte do efeito da política monetária ainda vai entrar na economia e que a inflação em 12 meses atingirá o pico em maio.
"O BC parece satisfeito e elevou bastante a barra para estender o ciclo para além de junho", afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, para quem o Copom encerra o ciclo no mês que vem com uma dose de alta de 0,5 ponto porcentual.
O mercado também acompanha o noticiário em torno da desoneração do ICMS para diesel, energia e transporte público que, se aprovado, poderia dar alívio à inflação, com impacto de baixa hoje para as taxas de inflação implícitas. Nos cálculos da economista Andrea Angelo, da Renascença, a desoneração de 17% do ICMS em combustíveis e energia elétrica pode chegar a -105 pontos-base no IPCA. "Estamos apurando quais tipos de transporte coletivo e de serviços de telecomunicação entrarão na medida", afirmou.
Para Sanchez, porém, a proposta não deve prosperar, pela resistência dos governos estaduais, que terão de abrir mão de arrecadação. "A aprovação deste tipo de projeto cabe às assembleias legislativas e mesmo que a Câmara aprove, acredito que não passa no Senado", afirmou. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que vai pautar o projeto na próxima semana.
Na gestão da dívida pública, o Tesouro elevou de 8 milhões para 10 milhões a oferta de LTN no leilão desta quinta, absorvida integralmente e com taxas todas abaixo do consenso, segundo a Necton. No leilão de NTN-F, mais que dobrou a oferta de 300 mil para 650 mil, vendida quase que totalmente (620 mil).