O mercado de juros adotou uma postura mais conservadora à tarde, quando as taxas zeraram o recuo visto na primeira etapa. Os trechos curtos e intermediários fecharam em alta e o longo, perto da estabilidade. A piora não teve motivo claro e não se viu nem na Bolsa nem no câmbio. Mas é fato que com as surpresas positivas pelo lado da atividade, revisões para cima em série para o Produto Interno Bruto (PIB) e o choque de commodities, a perspectiva é de persistência de pressões inflacionárias que ameacem a estratégia do Banco Central de recompor a Selic apenas parcialmente, o que ajudaria a explicar o descolamento entre DI e câmbio.
No exterior, dados fracos de atividade nos EUA acionaram o modo risk on e os rendimentos dos Treasuries se acomodaram, ajudando a ancorar a ponta longa da curva doméstica. O mercado digeriu bem a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a retirada do ICMS do cálculo do PIS/Cofins, que evitou o pior dos cenários para o governo de haver um desfalque de R$ 258,3 bilhões em cinco anos nas contas públicas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 4,95%, de 4,889% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023, nesta sexta novamente o mais líquido, subiu de 6,698% para 6,77%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa em 8,27%, de 8,245%, e o DI para janeiro de 2027 fechou com taxa a 8,85%, de 8,834%. O diferencial entre os DIs para janeiro de 2023 e janeiro de 2027 ficou em 208 pontos, de 214 pontos na quinta e 201 pontos na sexta-feira passada.
Os discursos de membros do Copom em eventos não chegaram a trazer novidades em relação ao que os recentes documentos da autoridade monetária apresentaram, mas os destaques para a inflação não passaram despercebidos. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a inflação implícita está crescendo em todos os lugares. "Mesmo países com histórico de baixa inflação, as taxas de juros de cinco anos estão subindo. O que os mercados precificam é que os emergentes começarão a ver inflação maior", afirmou.
Já o diretor de Política Monetária, Bruno Serra, disse que o BC tem de ser 'xiita' com o centro da meta de inflação, sempre. Embora o colegiado já tenha sinalizado nova alta de 0,75 ponto da Selic em junho, para 4,25% ao ano, mantendo a avaliação de que o ajuste deve ser "parcial", Serra considerou que, se o consenso de projeções do mercado começar a se descolar da meta de inflação para 2022, o BC terá que mudar a sua reação. "Não há nada de errado nisso", disse ele, que não se comprometeu com sinalização para política monetária a partir de agosto.
Para a JF Trust, a inflação na margem deve seguir elevada em maio e, com o ritmo surpreendente da atividade, a probabilidade de alta é maior do que de queda nos juros futuros na próxima semana. "Seria apropriado que o Bacen não tentasse se comprometer com nenhum foward guidance (como a normalização parcial dos juros), pois a volatilidade dos preços dos ativos segue", afirma relatório da instituição, que tem Eduardo Velho como economista-chefe.
Na semana que vem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulga o IGP-10 de maio, que, de acordo com a pesquisa do Projeções Broadcast, deve ter a maior taxa para o mês desde o início do Plano Real. A mediana das estimativas aponta alta de 2,72%.