Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais curtos tendem a passar por um ajuste de baixa na quinta-feira, após o Copom promover corte de 0,50 ponto percentual da Selic, para 13,25% ao ano, contrariando parte do mercado, avaliaram economistas ouvidos pela Reuters.
Nos últimos dois dias, a curva a termo brasileira passou a precificar chances maiores de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortar a taxa básica em 0,25 ponto percentual, e não em meio ponto.
Perto do fechamento do mercado de juros futuros nesta quarta-feira, por exemplo, a curva precificava 58% de chances de corte de 0,25 ponto e outros 42% de probabilidade de corte de 0,50 ponto. Como o corte foi de meio ponto, a tendência é de um ajuste da curva nesta quinta-feira.
“A decisão do Copom foi dividida, apertada. Nós víamos isso no mercado, inclusive”, disse o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, destacando o fato de a decisão do Copom ter sido dividida, com 5 votos a 4 pelo corte de 0,50 ponto percentual.
Além de optar por um corte maior, o colegiado sinalizou a intenção de promover novas reduções de meio ponto nas próximas reuniões.
“Deve ocorrer um ajuste importante na curva nesta quinta-feira. Até o contrato para janeiro de 2024, as taxas podem cair cerca de 15 bips. Daí até o contrato para 2027, o ajuste pode chegar a 20 bips. Do contrato de 2027 para frente, as quedas tendem a ser menores”, pontuou Serrano.
Para Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, pode haver de fato algum fechamento da curva a termo entre os contratos de curto prazo, já que nos últimos dois dias parte do mercado migrou suas apostas para um corte de 0,25 ponto percentual.
“Mas não vejo um ajuste na curva longa. Além disso, o Copom deixou muito claro que pretende cortar 0,50 ponto nas próximas reuniões”, pontuou Damico. “Isso é importante para tirar eventual euforia que o mercado poderia ter amanhã (quinta-feira), de buscar 75 pontos-base (de corte). Foi uma tentativa do BC de ancorar as expectativas em 50 pontos-base.”
A economista pondera ainda que a divisão tende a desaparecer na próxima reunião do Copom, marcada para 19 e 20 de setembro.
“Aqueles que votaram por 50 pontos agora já vão continuar votando por 50 pontos na próxima reunião. E aqueles que votaram por 25 pontos também votariam em 50 na próxima”, avaliou.
Efeitos no câmbio
O analista de mercado da Ebury, Eduardo Moutinho, disse que o mercado de câmbio também tende a ser influenciado nesta quinta-feira pelo corte de 0,50 ponto percentual da Selic e pela sinalização de que o Copom tende a promover mais cortes de meio ponto.
“Por eles (dirigentes do BC) terem escolhido o ajuste maior, isso provavelmente vai ter um impacto negativo no câmbio amanhã (quinta-feira). Como não havia consenso entre os investidores, o corte de 0,50 ponto deve promover uma correção do dólar para cima”, disse Moutinho.
Nas últimas duas sessões, que antecederam o Copom, o dólar à vista já havia fechado em alta ante o real.
Entre participantes do mercado de câmbio existe a leitura de que uma redução da Selic no Brasil, somada à possibilidade de juros mais elevados nos Estados Unidos, tende a tornar o país menos atrativo ao capital externo, o que dá força às cotações do dólar.
No entanto, Damico lembra que a Selic no Brasil ainda está elevada. Para ela, o efeito da decisão do Copom sobre o câmbio tende a ser mais neutro nesta quinta-feira.