O mercado de juros resistiu ao mau humor vindo do exterior que prevaleceu sobre os ativos domésticos durante boa parte do dia, com as taxas rondando a estabilidade. Ante a expectativa pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e sem mais notícias negativas do lado fiscal, o compasso de espera deu o tom aos negócios, na medida em que muito prêmio também já havia sido embutido na curva nas últimas sessões. A aposta de alta de 1 ponto porcentual da Selic está bem precificada e os investidores aguardam a sinalização do comunicado sobre o plano de voo do Banco Central.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,345%, de 6,361% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 7,896% para 7,875%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 8,78%, de 8,796%, e a do DI para janeiro de 2027, em 9,10%, de 9,114%.
O analista de Investimentos Renan Sujii afirma que após o presidente da Câmara, Arthur Lira, ter na terça-feira reforçado o compromisso com o cumprimento do teto de gastos e negado a possibilidade de ampliação do Bolsa Família para R$ 400, a pressão sobre a curva arrefeceu e o mercado espera agora pelas decisões concretas. "Temos hoje uma acomodação 'técnica' das taxas, depois que ontem o estresse na ponta longa também contaminou o resto da curva", disse.
Além da piora do cenário para as contas públicas, o colegiado tem uma questão ainda mais evidente para legitimar a aceleração no ritmo de aperto da taxa básica, de 0,75 ponto no encontro de junho para 1 ponto agora. Após um período de estagnação, as estimativas de Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2022, horizonte relevante da política monetária, voltaram a piorar desde a semana passada. No Boletim Focus mais recente, a mediana de IPCA para o ano que vem estava em 3,80%, acima da meta de 3,5%.
"O Bacen deverá elevar a Selic em 5,25% neste Copom, já tentando minimizar a transmissão da inércia do IPCA de 2021. Selic de 7,5% ainda pode ser antecipada para dezembro de 2021", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.
Na sua opinião, a manutenção do ritmo de 0,75 ponto deve trazer inclinação para a curva, com curtos em baixa e longos, em alta. "A interpretação seria que o juro estaria 'atrás da curva'", afirmou.