Os juros desaceleraram o ritmo de avanço no fechamento da sessão regular, com alguns contratos mais longos chegando até mesmo a zerar a alta no fim da sessão, após a confirmação de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecerá no cargo com demonstração de apoio do presidente Jair Bolsonaro. As taxas abandonaram os níveis estratosféricos atingidos no começo da tarde, mas fecharam ainda bastante pressionadas no miolo da curva, refletindo o reforço nas apostas de que a política monetária terá de ser agressiva para se contrapor aos efeitos do terror fiscal na inflação. Com os contratos até o trecho intermediário subindo bem mais que os longos, a curva terminou a semana com forte desinclinação, em torno de 30 pontos-base.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a sessão regular sem 10,85%, de 10,495% no ajuste anterior, após tocar no limite de alta de 11,45% mais cedo. O DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 8,148%, de 7,922% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa quase estável, em 11,50% (mínima), de 11,497% na quinta-feira.
O anúncio das saídas de quatro integrantes da equipe econômica, incluindo o secretário do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o do secretário do Tesouro, Jeferson Bittencourt, na quinta à noite já trouxe estresse à curva pela manhã, que foi ganhando força na medida em que cresciam as especulações de que Guedes também deixaria o cargo. O ministro negou tudo em entrevista no período da tarde desta sexta. "Vamos trabalhar até o fim do governo", disse.
Para o lugar de Bruno Funchal foi indicado o chefe da Assessoria Especial de Relações Institucionais do Ministério da Economia, Esteves Colnago. "Estou nomeando alguém bastante sênior, com muita formação, muita experiência", afirmou Guedes.
"Guedes amenizou o problema, deu um 'fico' e disse que é R$ 400 e não mais, que era o que caberia. Isso deu uma segurada nesse dia horroroso para os mercados locais", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
A leitura é de que a permanência de Guedes estanca a sangria no curtíssimo prazo, mas o quadro para as contas públicas continua muito fragilizado pelas pressões políticas, até porque agora a PEC dos precatórios que vai abrir caminho para o Auxílio Brasil tem de ser aprovada nos plenários da Câmara e do Senado, para não gerar novos problemas de percurso.
As apostas para o Copom da próxima quarta-feira estão cada vez mais agressivas, com a expectativa de alta de 1,5 ponto na Selic amplamente majoritária. Nos Departamentos Econômicos, as previsões também tem sido revisadas. O Bradesco (SA:BBDC4) informou que agora espera avanço de 1,25 ponto porcentual, de 1 ponto antes, mesmo movimento feito pelo Credit Suisse (SIX:CSGN).
Guedes praticamente avalizou a aceleração no ritmo de aperto ao afirmar que com a piora fiscal, "o BC tem de correr um pouco atrás com juro". Ele alertou que é "obrigação do BC" não ficar atrás da curva e que é sua obrigação "dar cobertura" para a autoridade monetária.