Os juros dispararam nesta quarta-feira, com os desdobramentos do feriado de 7 de Setembro, em especial a partir dos discursos do presidente Jair Bolsonaro que ontem subiu o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF). As taxas fecharam a sessão regular nas máximas, refletindo a escalada da tensão institucional depois que o presidente do STF, Luiz Fux, em réplica a Bolsonaro, hoje lembrou que o desprezo às decisões judiciais por um chefe de Poder configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou a 10,06%, de 9,806% no ajuste de segunda-feira. A taxa do DI para janeiro de 2022 encerrou em 6,96%, de 6,897% no último ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,646% para 8,785%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,54%, de 10,274%.
O dia já começou tenso com a expectativa pela resposta de Fux aos ataques do presidente, que viria às 14h. À sinalização de Bolsonaro de que não mais vai acatar decisões do ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de "canalha", Fux fez questão de citar a possibilidade de crime de responsabilidade. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), evitou o confronto e, em pronunciamento no começo da tarde, defendeu o diálogo entre os Poderes.
No raciocínio do mercado, na medida em que os protestos foram pacíficos e nem Lira nem a Procuradoria-Geral da República (PGR) dão sinais de enfrentamento a Bolsonaro, a possibilidade de ruptura institucional ainda está na antessala. A despeito da decisão de vários partidos de avaliar a possibilidade de pedido de impeachment do presidente, esse ainda não é o cenário-base do mercado, que sofre pelo viés da agenda econômica. Na medida em que a crise política mobiliza as atenções, a votação das reformas vai sendo postergada e pode ficar inviabilizada no curto prazo com a proximidade o processo eleitoral. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decidiu cancelar todas as reuniões do plenário e de comissões marcadas para esta semana.
Num efeito cascata, o adiamento das reformas compromete o ajuste fiscal e o crescimento do País e, com o câmbio agora jogando contra, a política monetária tende a ficar cada vez mais demandada para estancar a escalada inflacionária, que tem a crise hídrica como grande motor. Não por acaso, o mercado voltou hoje a elevar a aposta em aceleração do aperto da Selic para 1,25 ponto porcentual no Copom de setembro, com as chances de a Selic ir a dois dígitos entrando no radar.
"A agenda econômica foi para vinagre e PIB marginal em 2022 pode ser zero ou negativo", disse o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências, Gustavo Loyola. Segundo ele, o BC pode ter de dar dose maior do "remédio", mas vê a Selic a dois dígitos ainda como pouco provável. "Se o Presidente desafia Supremo, imagina o BC... Esse é o cálculo que os agentes fazem", afirmou.
Outro fator que merece a atenção é a movimentação de caminhoneiros, que fazem protestos pontuais em rodovias nesta quarta-feira em apoio à pauta de Bolsonaro contra o Judiciário. O receio do mercado só não é maior porque não há consenso dentro da categoria e as mobilizações partem mais dos profissionais autônomos, sem apoio de entidades.