Por Tom Perry
BEIRUTE (Reuters) - O Estado Islâmico se recolheu em seu bastião sírio desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizou ataques aéreos dos EUA ao grupo na Síria, desaparecendo das ruas, reposicionando armas e combatentes e reduzindo sua exposição na mídia.
Na cidade de Raqqa, 450 quilômetros a nordeste de Damasco, os moradores relataram que o Estado Islâmico vem remanejando equipamentos todos os dias desde que Obama anunciou, em 11 de setembro, que os ataques norte-americanos aos militantes podem se expandir do Iraque para a Síria.
Os ativistas do Estado Islâmico que normalmente respondem perguntas na Internet estão desconectados desde então. Seus líderes não deram uma resposta direta a Obama, cujo discurso da semana passada não foi mencionado em um vídeo divulgado no sábado exibindo a decapitação do refém britânico David Haines pelas mãos de um militante do grupo radical.
Enquanto os EUA tentam montar uma coalizão para combater o Estado Islâmico, a facção jihadista parece estar tentanto criar tanta incerteza quanto possível sobre sua estratégia.
Diante da perspectiva das incursões aéreas norte-americanas no Iraque, os combatentes abandonaram armamentos pesados, que os tornavam um alvo fácil, e procuram se misturar em áreas civis. Antecipando ofensivas semelhantes na Síria, o grupo pode já estar fazendo o mesmo na nação vizinha.
Em Raqqa, os militantes esvaziaram edifícios que usavam como escritórios, reposicionaram armamentos pesados e retiraram familiares dos combatentes da cidade.
"Estão tentando se manter em movimento", disse um morador de Raqqa, comunicando-se via Internet e falando sob condição de anonimato por temer por sua segurança. "Eles têm células adormecidas (militantes infiltrados aguardando ordens) em toda a parte, e só se reúnem em encontros muito limitados", acrescentou.
O principal general norte-americano prometeu nesta terça-feira "uma campanha persistente e contínua" contra o Estado Islâmico na Síria, e Washington provavelmente já está de olho em suas posições em Raqqa. Obama aprovou voos de vigilância sobre o território sírio no mês passado, e filmagens feitas por ativistas no começo deste mês parecem mostrar um drone (aeronave não-tripulada) dos EUA sobre a cidade.
Desde que tomou a cidade iraquiana de Mosul em junho, o grupo sunita ampliou seu controle sobre a província vizinha de Deir al-Zor, que faz fronteira com o Iraque. Cumprindo sua promessa de redesenhar o mapa do Oriente Médio, o Estado Islâmico declarou um califado que inclui territórios dos dois lados da divisa.
Enquanto se prepara para um ataque, o Estado Islâmico tem tentado promover sua causa junto aos moradores, e alguns já demonstraram apoio ao grupo, que levou alguma estabilidade à área, embora com mão de ferro.
(Reportagem adicional de Mariam Karouny)