A votação do Senado para definir o impeachment de Dilma tem que ocorrer até setembro (Beto Barata/Agência Senado)
SÃO PAULO – A queda de dois ministros em menos de um mês balançou o governo de Michel Temer (PMDB), mas não deve ser suficiente para barrar o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff no Senado, segundo cientistas políticos.
A saída prematura do senador Romero Jucá (PMDB) do Ministério do Planejamento e de Fabiano Silveira da pasta de Transparência - após terem áudios vazados em conversas com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado - não contribuiu para o início do governo peemedebista.
Levantamento da Tendências Consultoria mostra que 56 senadores devem votar pelo impeachment de Dilma. Segundo Rafael Cortez, analista sênior da consultoria, há 80% de chances de Temer permanecer no Planalto até 2018.
A votação do Senado para definir o impeachment de Dilma tem que ocorrer até setembro e precisa de dois terços dos votos dos 81 senadores para o afastamento definitivo da presidente.
“Nossa visão é que continua muito improvável que Dilma consiga reverter os votos no Senado para barrar o impeachment e o afastamento definitivo”, afirma Lucas de Aragão, sócio da consultoria política Arko Advice. “Claro que isso pode mudar caso apareçam novas bombas atômicas da Lava Jato que envolvam Temer diretamente”, completa.
O cientista político avalia que o governo Temer tem sido muito efetivo para evitar que escândalos se alastrem. Jucá e Silveira não dormiram ministros após terem suas condutas colocadas na berlinda.
“Todos os problemas enfrentados por Temer até aqui criaram constrangimento, estabelecem a dúvida da sociedade civil, criam notícias negativas, impactam na capacidade de Temer conquistar a confiança do mercado e da população, mas não são suficientes para gerar uma vontade no Senado de reconduzir Dilma ao comando do país”, avalia Aragão.
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A aprovação com folga da meta fiscal e da DRU (Desvinculação das Receitas da União) é importante para o governo Temer, pois sinalizam a maior capacidade de governabilidade do peemedebista. Mas o verdadeiro divisor de águas será a votação de medidas mais amargas, que ainda não está garantida.
Para Cortez, ainda que tenha aprovado a meta fiscal e a DRU com facilidade, “a prova de fogo de Temer será para emplacar a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] para criar um teto para o crescimento dos gastos públicos”. Ele avalia que a reforma da Previdência será "uma pedra no sapato, mas deve sair do papel".
Mesmo diante de um início turbulento, Temer tem conseguido sustentar uma vantagem em relação a Dilma. “Temer demonstra capacidade de dialogar com o Congresso, com o centrão, de conseguir organizar a base minimamente. Temer ainda está muitos passos à frente de Dilma”, diz Aragão.