Por Rodrigo Viga Gaier e Luciano Costa
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Força Tarefa da Lava Jato voltou a mirar a estatal Petrobras (SA:PETR4), ao realizar nesta quinta-feira a Operação "Sem Limites II", que apura suspeitas de propinas relacionadas a transações da área de trading da companhia, que atua com compra e venda de petróleo, óleos combustíveis e derivados.
A PF cumpriu 14 ordens judiciais, sendo 12 mandados de busca e apreensão e dois ofícios para obtenção de dados telemáticos.
A Justiça determinou ainda bloqueios de bens de cerca de 17 milhões de reais para compensar eventuais prejuízos causados pelas operações, que envolveriam um operador financeiro ligado a um ex-ministro de Minas e Energia, segundo o Ministério Público Federal no Paraná.
Procurada, a Petrobras defendeu que "é vítima de crimes desvendados pela Operação Lava Jato" e destacou que "colabora com as investigações desde 2014", o que já possibilitou mais de 4 bilhões de reais em ressarcimentos aos cofres da companhia.
A estatal ainda ressaltou que não há entre os citados na operação desta quinta-feira nenhum empregado atualmente no quadro da companhia e disse entender que as apurações envolvem fatos ocorridos antes do início da Lava Jato em 2014.
"A Petrobras reitera sua política de tolerância zero com a fraude e corrupção", afirmou.
Os mandados foram expedidos pela Justiça de Curitiba e cumpridos no Rio de Janeiro. Equipes da PF estiveram em bairros das zonas sul e oeste do Rio. Um dos principais alvos é a Gerência Executiva de Marketing e Comercialização da estatal, que fazia operações de "trading" do petróleo e derivados, de acordo com as autoridades.
"Após análise de materiais apreendidos na 57ª Fase, Operação Sem Limites – deflagrada em dezembro de 2018, e do resultado de pedidos de cooperação jurídica internacional formulados pela PF, foram identificados novos indivíduos que auxiliavam e integravam a organização criminosa estruturada no sentido de lesar a Petrobras, especialmente em sua área de trading", disse a PF.
"Além do operador financeiro ligado ao ex-ministro, também são alvos das medidas de busca e apreensão o seu irmão, que o auxiliava no recebimento das vantagens indevidas, e quatro doleiros", disse o MPF no Paraná, sem citar nomes.
Segundo as autoridades, o operador financeiro relacionado a um ex-ministro da pasta teria atuado "ao menos de 2008 a 2014". No período, a pasta foi chefiada pelo ex-senador Edison Lobão (MDB), já acusado de irregularidades por delatores na Lava Jato.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia não comentou. Não foi possível falar com representantes do ex-ministro Lobão.
O suposto esquema de "trading" contava com a ajuda de doleiros que movimentam recursos no exterior para quadrilha, disseram os policiais federais.
"A PF conseguiu identificar titulares de contas no exterior em nome de empresas offshores, e por meio delas, profissionais do mercado paralelo de câmbio realizavam transferências bancárias internacionais para a realização de 'dólar-cabo'", afirmou a corporação.
A suspeita é de que parte dos valores de propina tinham como objetivo o pagamento de intermediários políticos para a manutenção de certos empregados públicos em funções gerenciais estratégicas da Petrobras, como a de Gerência Executiva de Marketing e Comercialização, onde se realizavam as operações de trading, acrescentou a PF.
Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa, crimes financeiros e de lavagem de dinheiro, disseram as autoridades.
A Reuters publicou em fevereiro que um ex-operador da Petrobras assinou acordo de delação com procuradores sobre suposto esquema de propinas entre tradings de petróleo e funcionários da estatal brasileira. [nL1N2A413U]
O MPF paranaense disse, sem detalhar, que um ex-trader da Petrobras, que atuou no escritório da companhia em Houston, no Texas, "hoje colabora com as investigações".