THAME, Inglaterra (Reuters) - O ex-ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, voltou das suas férias neste domingo para encarar críticas e apoio a respeito de seus comentários sobre a burca, aprofundando divisões no Partido Conservador governista.
Johnson, visto como a maior ameaça à liderança tumultuada da primeira-ministra Theresa May, virou um pára-raio da insatisfação dentro do partido, depois de uma coluna de jornal em que disse que mulheres islâmicas que usam burcas parecem caixas de correio ou ladras de banco.
O comentário estava em um artigo argumentando contra o banimento do véu islâmico que cobre o rosto inteiro, mas foi criticado como islamofóbico. Outros viram o comentário como uma retórica colorida que ressoou com muitos britânicos.
May criticou Johnson, motivando irritação entre seus apoiadores que o veem como um ponto focal da resistência à sua proposta para a saída da União Europeia “amigável aos negócios”. O partido também abriu investigação sobre os comentários.
Sob a manchete “Boris começa guerra de gabinete”, o Sunday Times disse que quatro ministros não identificados ficaram desanimados com a maneira como May lidou com a situação.
“Eles conseguiram construir um desastre total”, teria dito um ministro. “Tentar silenciar Boris é estúpido, especialmente quando a maioria das pessoas concorda com ele.”
Johnson passou o domingo em sua casa na pequena cidade de Thame, a 80 quilômetros ao noroeste de Londres, aparecendo apenas para levar xícaras de chá para os repórteres. Questionado se arrepende dos comentários, ele se recusou a responder.
Johnson renunciou ao cargo mês passado em protesto contra o plano de May para o Brexit, estabelecendo-se como um talismã para muitos conservadores que querem uma saída mais radical da União Europeia.
Enquanto isso, May sofre para manter o seu gabinete unido em relação ao Brexit e passa por meses desafiadores, nos quais espera assegurar um acordo para sair da União Europeia, diante da base insatisfeita do partido, e vencer uma votação crucial no parlamento.
Os comentários de Johnson sobre a burca foram defendidos, entre outros, pelo ex-estrategista político de Donald Trump, Steve Bannon, que disse ao Sunday Times que a mensagem abrangente ficou perdida por causa de uma “frase de passagem”. Bannon já havia dito que Johnson deveria desafiar a liderança de May.
Mas um membro do Partido Conservador, na Câmara Alta do Parlamento, e antigo conselheiro político, Andrew Cooper, acusou Johnson de “vazio moral”e populismo por seus comentários.