SÃO PAULO (Reuters) - A chinesa State Grid e a estatal Eletrobras (SA:ELET3) negociam para que outras empresas assumam parte do trabalho da empreiteira chinesa SEPCO1 nas obras do primeiro dos dois enormes linhões que conectarão a hidrelétrica de Belo Monte ao sistema elétrico, após problemas de desempenho do fornecedor que ameaçam colocar em risco o cronograma do empreendimento.
O linhão, com mais de 2 mil quilômetros entre o Norte e o Sudeste do país e orçado em 4,5 bilhões de reais, precisa entrar em operação em fevereiro de 2018 para não comprometer o escoamento da produção da mega usina no rio Xingu.
A chinesa SEPCO1 avançou até o final de 2016 com cerca de 20 por cento do trecho 1 e 57 por cento do trecho 2 do linhão, enquanto as contratadas para as outras seis partes do empreendimento apresentam avanços de entre 60 por cento e 78 por cento, respectivamente, segundo documento do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
O comitê, que reúne autoridades do setor de energia, vem há meses ressaltando o "baixo desempenho" da SEPCO1 em suas atividades.
A Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), empresa criada por State Grid e Eletrobras para tocar a obra do linhão, disse que vai repassar a outras empreiteiras parte dos trabalhos da chinesa para acelerar os trabalhos.
"A BMTE está negociando para que mais contratados assumam parte do trabalho da SEPCO1 nos trehos 1 e 2", disse a empresa, sem detalhar.
A BMTE ressaltou ainda que "acredita que o projeto cumprirá o prazo".
O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Fábio Lopes Alves, disse à Reuters que a BMTE tem assegurado que ainda é possível cumprir o prazo do linhão.
"O atraso existe, e eles reconhecem que existem problemas, que houve necessidade de intervenção deles, mas o prazo ainda é exequível... eles estão tomando as providências para recuperar o atraso nesses trechos", afirmou.
Uma fonte próxima ao empreendimento disse que atrasos não estão descartados, apesar das mudanças esperadas relacionadas à SEPCO1.
Segundo a fonte, que falou na condição de anonimato, houve uma enorme dificuldade dos chineses para tocar um empreendimento complexo em uma região complicada, no Norte do país, onde um período de chuvas que vai até maio atrapalha fortemente o ritmo das obras.
A fonte disse ainda que outras questões atrapalham o empreendimento, como dificuldades de comunicação entre os chefes chineses e as equipes técnicas brasileiras e a violência da cidade de Anapu, no Pará, por onde passa o trecho do linhão sob responsabilidade da SEPCO1.
No ano passado, um chinês empregado na obra do linhão chegou a ser assassinado a tiros.
Procurada, a SEPCO1 não comentou imediatamente.
(Por Luciano Costa)