Por Ismael Lopez
MANÁGUA (Reuters) - O governo da Nicarágua libertou na quarta-feira 100 pessoas que a oposição considera prisioneiros políticos, e os dois lados retomaram conversas para acabar com uma crise nacional.
Pablo Cuevas, advogado da organização não-governamental Comissão Permanente de Direitos Humanos, disse que os detidos começaram a sair das penitenciárias de manhã.
O Ministério do Interior da Nicarágua disse que 100 pessoas foram soltas, mas não deu detalhes de seu estado.
O país atravessa uma crise política profunda desde que o presidente Daniel Ortega tentou realizar uma reforma previdenciária em abril, provocando protestos em massa. O caos que se instaurou mergulhou a já pobre nação centro-americana na recessão.
O governo de Ortega, ex-guerrilheiro dos tempos da Guerra Fria que foi eleito em 2006, reprimiu a revolta e cerca de 320 pessoas foram mortas e mais de 600 foram presas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Em retaliação, os Estados Unidos intensificaram as sanções contra aliados e familiares de Ortega e limitaram o acesso da Nicarágua a financiamentos. O presidente dos EUA, Donald Trump, disse neste mês que "os dias do socialismo" estão contados na Nicarágua, Venezuela e Cuba.
Imagens de televisão mostraram microonibus aparentemente transportando prisioneiros libertados pelas ruas da capital, Manágua.
Outro grupo de direitos humanos disse que alguns dos prisioneiros soltos serão mantidos em prisão domiciliar.
Um dos ônibus levava o maratonista Alex Vanegas, crítico explícito de Ortega preso em novembro.
"Continuarei correndo pela liberdade na Nicarágua, não me importo se me prenderem de novo", gritou Vanegas pela janela do veículo.
Acompanhadas pela Igreja Católica, conversas entre o governo, representantes do empresariado, estudantes e políticos opositores foram realizadas com a meta de resolver a crise. Ortega não participou.
Waldemar Stanislaw Sommertag, o núncio apostólico para a Nicarágua, leu um comunicado no final das conversas dizendo que 12 temas foram debatidos e que houve acordo a respeito de 9 deles, mas não deu detalhes.
As reuniões devem continuar na quinta-feira.
A última tentativa de diálogo do governo com a oposição aconteceu em maio, mas as conversas emperraram quando os manifestantes exigiram eleições antecipadas.