Por Leticia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Eletrobras (BVMF:ELET3) encerrou o segundo trimestre com aumento de dois dígitos no lucro e resultados importantes em seu trabalho de reestruturação após a privatização, surpreendendo positivamente analistas, que destacaram uma reversão bilionária de provisões e controle de custos no período.
Em balanço publicado na noite de segunda-feira, a Eletrobras reportou um lucro líquido de 1,62 bilhão de reais, cifra 16% maior que a registrada um ano antes.
Já seu Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou 6,6 bilhões de reais no período, alta de 59% no comparativo anual, influenciado principalmente por crescimento de receitas e por reversão de provisões.
Entre abril e junho, a Eletrobras registrou 1,71 bilhão de reais em reversão de provisões, contra uma contabilização de 2,23 bilhões em igual período de 2022.
O principal destaque foi a reversão de 1,6 bilhão de reais na linha de litígios, em função de acordos judiciais nos processos relacionados ao empréstimo compulsório (principal passivo da Eletrobras).
Com isso, a companhia afirmou que o estoque total de provisão de empréstimo compulsório reduziu em 2,1 bilhões de reais no segundo trimestre, para 22,2 bilhões, refletindo deságios nos acordos firmados e redução de 624 milhões de reais por pagamentos efetuados.
As ações da elétrica para reduzir seu passivo com o compulsório surpreendeu analistas, que também notaram melhora nos custos, com uma economia de 213 milhões de reais referente às saídas de empregados do primeiro Plano de Demissão Voluntária (PDV) realizado pela companhia após a privatização.
"O resultado da Eletrobras trouxe notícias positivas na área de empréstimos compulsórios e redução de sua posição de energia descontratada", escreveu Maíra Maldonado, analista da XP (BVMF:XPBR31).
"Além disso, pudemos perceber que os esforços na redução de Opex (despesas operacionais) podem começar a se manifestar nos próximos trimestres", acrescentou Maldonado.
Já a equipe do BTG Pactual (BVMF:BPAC11) avaliou que o desempenho da Eletrobras no segundo trimestre forneceu algum conforto de que o "turnaround" após a privatização está em andamento.
"Acreditamos que os investidores acompanharão o progresso adicional em cortes de custos e/ou negociações de empréstimos compulsórios nos próximos trimestres", disse o banco.
O BTG também destacou a possibilidade de definições, nos próximos meses, sobre dois temas que vêm trazendo incertezas para a Eletrobras: uma decisão final da agência reguladora da Aneel sobre pagamentos da RBSE (indenização às transmissoras de energia), com efeitos para ativos da Eletrobras; e a definição de uma tarifa para o projeto de Angra 3, sob responsabilidade da Eletronuclear, da qual a Eletrobras ainda é sócia.
O Bank of America (NYSE:BAC) também recebeu "bem" os resultados do segundo trimestre.
"Vemos a reestruturação em curso (por exemplo, corte de custos e gestão de passivos) como drivers para os papéis no curto prazo", disseram analistas do BofA, que destacaram também o avanço da companhia na comercialização de energia, com fechamento de contratos envolvendo 624 megawatts (MW) médios.
A companhia realizará teleconferência para comentar os resultados na quarta-feira, às 14h30.
A ação ON da Eletrobras operava em alta de 1,8% por volta das 12:10, enquanto o Ibovespa caía 0,67%.
DÍVIDA
A Eletrobras encerrou o segundo trimestre com 38 bilhões de reais de dívida líquida ajustada, 152% acima do observado um ano antes.
A alavancagem da companhia ficou em 2 vezes a dívida líquida ajustada sobre Ebitda, ante 0,7 vez um ano antes.
Na véspera, antes de divulgar o resultado trimestral, as Eletrobras anunciou que contratou bancos para uma possível quarta emissão de debêntures simples no valor estimado de 7 bilhões de reais.