Por Jorge Otaola e Walter Bianchi
BUENOS AIRES (Reuters) - Os mercados financeiros da Argentina consolidavam ganhos nesta quinta-feira, em meio às expectativas dos investidores de que o novo presidente Javier Milei controlará os gastos públicos e fará progressos em suas promessas de campanha, diante da inflação galopante e da pressão da desvalorização cambial.
O economista libertário eleito disse que aplicará uma "terapia de choque" para resolver a crise econômica, com inflação de três dígitos, aumento da pobreza e escassez de reservas no banco central.
Milei, que assumirá o cargo em 10 de dezembro, disse nas últimas horas que fará cortes profundos nos gastos como parte de seu plano de "motosserra" para reduzir o déficit do Estado. "Não há dinheiro. Não há dinheiro (...) Se não fizermos o ajuste fiscal, vamos entrar em hiperinflação e vamos ter 95% de pobres e 70%-80% de indigentes", acrescentou.
Os títulos soberanos subiam 0,6% em média, sustentados por aqueles vinculados à inflação e à desvalorização cambial, depois de avançarem 9% entre terça e quarta diante de uma queda de 40 pontos no risco-país do banco JP Morgan, para 2.125 pontos-base.
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A Argentina, a segunda maior economia da América do Sul, está lutando contra uma inflação de 143% nos últimos 12 meses e reservas líquidas negativas do banco central em cerca de 10 bilhões de dólares, além de 40% da população vivendo na pobreza e uma recessão à espreita.
Milei derrotou o atual ministro da Economia Sergio Massa no segundo turno no domingo passado, em uma reação dos eleitores ao governo de centro-esquerda, que muitos culpam por ter provocado a crise com gastos elevados para ajudar milhões de pessoas, mas que se mostraram insustentáveis.
O índice de ações S&P Merval, de Buenos Aires, caía 0,57%, depois de subir 30% nos dois dias anteriores e atingir um pico intradiário de 838.616,65 pontos, com as ações do setor de petróleo liderando a alta, especialmente a estatal YPF.
O índice vem "acelerando seu impulso de alta após a vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais do último domingo. O Merval ultrapassou os 800.000 pontos (...) e a próxima zona de resistência pode estar em 900.000 pontos", disse Alexander Londoño, analista da ActivTraders.
O banco central elevará sua taxa de juros de referência ainda nesta quinta, embora não haja detalhes sobre a magnitude, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento direto do assunto. O rendimento atual está em 133% nominal anualizado para as "Letras de Liquidez" ("Leliq").
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Operadores concordam que um novo aumento da taxa tem como objetivo conter a saída de pesos dos bancos para fazer hedge em dólares diante do plano de dolarização do novo presidente, uma tendência evidenciada esta semana por um corte de 40% no volume durante a última oferta de "Leliq".
A pressão sobre a taxa de câmbio, juntamente com uma restrição rigorosa ao acesso à moeda estrangeira, fez com que o peso oficial caísse ligeiramente para 357,1 por dólar, contra uma moeda informal com pequenas flutuações em torno de 1.070 por dólar e uma diferença de 199,6%.
Nesta quinta-feira, a Argentina aumentou os impostos sobre as compras de dólares feitas com cartões bancários e sobre as compras de moeda estrangeira para poupança, a fim de proteger as reservas do banco central.
Analistas do Morgan Stanley (NYSE:MS) projetam um ajuste cambial de pelo menos 80% na taxa de câmbio oficial em dezembro, com o novo governo em vigor, e que o país provavelmente negociará um novo programa com o FMI "de forma relativamente rápida" para evitar incorrer em atrasos na linha de crédito existente de 44 bilhões de dólares.
((Tradução Redação São Paulo))