Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O desemprego no Brasil subiu pelo segundo mês seguido e atingiu 5,9 por cento em fevereiro, maior nível desde junho de 2013, com aumento da procura de trabalho associada à dispensa de trabalhadores e deterioração da renda, em mais um golpe para a abalada imagem do governo da presidente Dilma Rousseff.
O número apontado pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou um pouco acima da expectativa apontada em pesquisa da Reuters, de 5,7 por cento.
Em janeiro, a taxa de desemprego havia subido a 5,3 por cento, após ter igualado no mês anterior o menor nível histórico de 4,3 por cento.
"O começo de 2015 mostra uma mudança de tendência do mercado de trabalho em relação ao que vimos no começo do ano passado, quando havia estabilidade da população ocupada", avaliou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Adriana Berenguy.
"Esse crescimento da taxa está ligado ao crescimento da procura e a uma redução da ocupação. Essa é a pior combinação que pode haver", completou.
O aumento da procura por vagas está claro na alta de 10,2 por cento em fevereiro da população desocupada, que são as pessoas sem trabalhar mas à procura de uma oportunidade, na comparação mensal. Na base anual, houve avanço de 14,1 por cento na base anual, atingindo 1,419 milhão de pessoas.
Ao mesmo tempo, a população ocupada diminuiu 1,0 por cento sobre janeiro --ou seja, 229 mil postos de trabalho foram fechados--, e recuou 0,9 por cento ante o mesmo período do ano anterior, chegando a 22,775 milhões de pessoas.
O comércio teve queda de 1,3 por cento no número de vagas na comparação com janeiro, o que significa 57 mil postos de trabalho a menos. Mas em relação a fevereiro de 2014, houve alta de 1,5 por cento (mais 65 mil postos).
Os problemas enfrentados pelo comércio já haviam sido destacados em dados do Ministério do Trabalho, que mostraram que no mês passado o Brasil perdeu 2.415 vagas formais, no pior resultado para meses de fevereiro desde 1999, influenciado por elevadas demissões de trabalhadores no comércio e na construção civil.
Já Outros Serviços registrou o fechamento de 165 mil vagas em fevereiro na comparação com janeiro, ou queda de 3,7 por cento. Sobre um ano antes, houve aumento de 0,5 por cento.
RENDA
O IBGE também informou que a renda média real caiu 1,4 por cento sobre janeiro a 2.163,20 reais, e recuou 0,5 por cento sobre um ano antes, maior queda interanual desde maio de 2005.
As altas da taxa de desemprego no início do ano refletem a fragilidade da economia, num momento de inflação alta, juros elevados, aperto fiscal e perspectiva de contração da atividade neste ano, cenário que vem levando o mercado de trabalho a mostrar há tempos sinais de esgotamento.
"Não fosse pela variação negativa da população economicamente ativa e pelo declínio na taxa de participação da força de trabalho nos últimos trimestres, a taxa de desemprego já estaria muito mais alta", escreveu em nota o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.
"Projetamos que as condições do mercado de trabalho continuarão a se deteriorar dada a expectativa de que a economia vai contrair em 2015."
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que com abrangência nacional tem previsão de substituir a PME, a taxa de desemprego subiu a 6,8 por cento no trimestre encerrado em janeiro, diante também do aumento da procura por trabalho.