Por Jamie McGeever
BRASÍLIA (Reuters) - A agência de classificação de crédito Moody's alertou nesta segunda-feira para os riscos crescentes para sua perspectiva "estável" para o rating de dívida soberana do Brasil, observando que uma recessão ainda mais profunda do que a prevista atualmente pode exigir apoio fiscal prolongado do governo.
A Moody's espera que a maior economia da América Latina encolha 5,2% este ano devido à crise causada pelo coronavírus, uma previsão alinhada ao consenso do mercado e que marcaria a maior retração anual desde que os registros começaram em 1900.
Mas os riscos pendem para o lado negativo, disse Samar Maziad, analista principal da Moody's para os ratings soberanos do Brasil, o que poderia exigir mais apoio à economia e abortar o plano do governo de retomar a austeridade fiscal e a agenda de reformas no próximo ano.
"A dinâmica de crescimento do Brasil está sujeita a riscos negativos", disse Maziad em uma videochamada com jornalistas nesta segunda-feira. "Se a deterioração fiscal se tornar permanente, esse seria o gatilho crítico para repensar as perspectivas".
A Moody's manteve sua perspectiva e o rating de crédito "Ba2" da dívida soberana do Brasil na sexta-feira, citando três principais razões para otimismo com a dinâmica da dívida: uma retomada da austeridade fiscal em breve; taxas de juros em recordes de baixa ajudando no pagamento do serviço da dívida; baixa dívida externa e fortes reservas internacionais.
As autoridades do Ministério da Economia insistem que as despesas de combate à crise serão limitadas apenas a este ano e que o governo retomará seu esforço para recuperar as finanças públicas no mesmo nível no próximo ano.
Medidas emergenciais para enfrentar as crises econômicas e de saúde terão um impacto estimado de 349,4 bilhões de reais no saldo primário do governo central deste ano, enquanto o déficit primário do setor público consolidado poderá chegar a 700 bilhões de reais, ou mais de 9% do Produto Interno Bruto.
Maziad também observou os crescentes riscos políticos. O presidente Jair Bolsonaro perdeu dois ministros da Saúde em um mês, seu popular ministro da Justiça renunciou e as relações com o Congresso são difíceis.
"Estamos cientes dos riscos existentes --uma contração econômica mais profunda, dinâmica política e uma possível deterioração permanente no desempenho fiscal", afirmou Maziad.
O rating de crédito "Ba2" do Brasil da Moody's é dois graus abaixo do grau de investimento. As agências de classificação rival Fitch e S&P recentemente reduziram suas perspectivas para o Brasil.