SÃO PAULO (Reuters) - "A produtora de aço plano Usiminas (SA:USIM5) é a casa e os sócios Nippon Steel e Ternium são o casal que mora dentro dela". Desta forma o diretor-executivo do grupo siderúrgico japonês nas Américas, Kazuhiro Egawa, definiu o acordo fechado na véspera com o sócio para encerrar um dos maiores conflitos corporativos do Brasil dos últimos anos.
O acordo põe fim a uma série de processos judiciais abertos por Ternium e Nippon Steel desde que os desentendimentos dos principais acionistas da Usiminas começaram em 2014. Além disso, cria um mecanismo que permite a ambos resolver novos conflitos por meio da saída negociada de um deles do grupo de controle. O mecanismo passará a valer quatro anos e meio depois da eleição da nova diretoria da Usiminas, em maio.
Em entrevista nesta sexta-feira, Egawa usou uma série de metáforas para descrever o acerto com a Ternium, mas evitou comentar de que maneira o mecanismo poderá ser acionado. "Não casamos pensando em divórcio", disse o executivo. "Mas caso ocorra o divórcio, o mecanismo serve para não haver brigas".
Em meados de janeiro, quando ainda se mostrava contrariada sobre a forma como ocorreu a saída do executivo Masashi Imoto da Usiminas, a Nippon afirmou que o pedido de demissão do executivo "deteriora e trai a boa ética, a transparência e a confiança mútua que têm marcado de forma profunda os 60 anos de excelente relacionamento entre a NSSMC, a Usiminas e os cidadãos mineiros e brasileiros". Imoto pediu demissão da Usiminas após episódio causado por cartão de visita dele que, além do email da Usiminas, trazia também o contato dele na Nippon Steel.
Questionado sobre o repentino acordo entre Nippon Steel e Ternium, Egawa comparou o entendimento entre os rivais a uma fruta. "Ela fica um tempo no pé e quando amadurece, cai. Depois de meses e anos a fruta ficou madura", disse o executivo, acrescentando que não houve nenhum acerto financeiro entre os grupos para o acordo.
O pacto também prevê que nenhum dos dois grupos, nem suas subsidiárias, poderá comprar ações ordinárias da Usiminas sem a permissão do outro. Segundo Egawa, a Nippon não tem interesse em ampliar sua participação de cerca de 21 por cento na Usiminas por meio da compra de ações da empresa que terão de ser vendidas pela CSN (SA:CSNA3) nos próximos meses, por determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Segundo o diretor-executivo para as Américas da Nippon Steel, a Usiminas seguirá sendo o principal ativo produtor de aço plano do grupo japonês na América do Sul, onde investiu pela primeira vez há 60 anos. "A Usiminas é a base para analisarmos outros possíveis investimentos na região", disse Egawa.
Por sua vez, o presidente-executivo da Usiminas, Sergio Leite, afirmou após a divulgação do resultado da siderúrgica, nesta manhã, que o mecanismo de solução de controvérsia acordado por Ternium e Nippon "foi adotado com vistas a não ser usado".
"Haverá equilíbrio nas participações e se houver especulações do mercado (sobre eventual saída de um dos sócios do controle da Usiminas), não virão da Ternium ou da Nippon."
(Por Alberto Alerigi Jr.)