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Não meu salário! Alguns trabalhadores de tecnologia reclamam de campanha da China contra horas extras obrigatórias

Publicado 03.09.2021, 12:32
Atualizado 03.09.2021, 17:48
© Reuters. Crachá de funcionário da ByteDance em Pequim, China 
13/08/2020
REUTERS/Tingshu Wang

Por Yingzhi Yang e Brenda Goh

PEQUIM (Reuters) - A campanha do governo chinês para melhorar as condições aos trabalhadores motivou empresas, especialmente algumas das gigantes de tecnologia, a cortar horas extras obrigatórias, mas nem todos os funcionários ficaram felizes com a notícia.

Alguns funcionários da ByteDance, dona do TikTok, ficaram chocados ao descobrir que os seus holerites de agosto foram cortados em 17% após a empresa encerrar a sua política de exigir que funcionários que moram na China trabalhassem seis dias por semana a cada duas semanas.

“Minha carga de trabalho não mudou de verdade”, afirmou um diretor de produtos da ByteDance à Reuters, recusando-se a ser identificado devido à sensibilidade do assunto. “Mas infelizmente meu salário é menor.”

Durante a última década, as empresas de tecnologia da China eram conhecidas pelo “996”, uma árdua cultura empresarial que geralmente significa um expediente das 9h às 21h, seis dias por semana. Mas o 996 também era visto como uma medalha de honra e comemorado como uma vantagem competitiva em relação aos Estados Unidos e aos rivais europeus.

Também era uma garantia de salário alto porque a lei da China estipula que funcionários têm direito ao dobro do pagamento por horas extras no fim de semana e o triplo em feriados públicos.

A ByteDance se recusou a comentar sobre os cortes salariais que foram muito discutidos nas redes sociais. Uma outra fonte da empresa afirmou que os funcionários ainda podem receber hora extra nos fins de semana, se precisarem cumprir prazos, acrescentando que alguns funcionários da unidade de games o haviam feito recentemente.

Alguns funcionários no setor de tecnologia começaram a reagir contra o 996 cerca de dois anos atrás - um movimento que reuniu apoio de autoridades que querem promover valores socialistas e direitos trabalhistas, tentando avançar uma série de reformas regulatórias. O principal tribunal da China descreveu o 996 como ilegal mês passado.

Outras empresas de tecnologia, como a plataforma de vídeos curtos Kuaishou e a gigante de entrega de comida Meituan também cortaram horas extras obrigatórias no fim de semana recentemente.

Em outro benefício aos trabalhadores, a gigante de transporte de passageiros por aplicativo, Didi Global e a potência do e-commerce JD.com criaram sindicatos apoiados pelo governo nas últimas semanas - um fato inovador no setor de tecnologia, no qual o trabalho organizado até agora tem sido muito raro.

© Reuters. Crachá de funcionário da ByteDance em Pequim, China 
13/08/2020
REUTERS/Tingshu Wang

As autoridades também estão trabalhando para estabelecer mais intervalos para os trabalhadores, especialmente no setor de entrega de comida, no qual as empresas foram acusadas de pressionar entregadores a cumprirem prazos apertados, às custas da segurança.

Mas há preocupações sobre consequências não intencionais.

“Isso não restringirá seus salários?”, afirmou um usuário no Weibo, equivalente chinês ao Twitter, mencionando como esses motoristas são pagos por pedido. “Causará mais problemas. Eles não vão dirigir ainda mais rápido para fazer a entrega?”, disse outro.

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