Investing.com – A expectativa quanto à decisão de política monetária do Banco Central Europeu na próxima quinta-feira tem diminuído durante as últimas semanas já que especialistas e mercados lentamente se deram conta de que é improvável que a autoridade monetária da zona do euro ofereça grandes indicações sobre sua estratégia para reduzir seu programa de compra de ativos.
A decisão do Banco Central Europeu sobre a taxa de juros está prevista para quinta-feira às 08h45 (horário de Brasília), sem expectativas de grandes mudanças.
A maior parte das atenções estará voltada à entrevista coletiva de Mario Draghi, presidente da instituição, 45 minutos após o anúncio, já que investidores buscam mais indicações sobre quando o BCE irá reduzir seu imenso programa flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês), avaliando em 60 bilhões de euros (US$ 71,7 bilhões) mensais.
Mercados aguardam detalhes concretos em outubro
Entretanto, o consenso entre analistas ao redor do globo recentemente adiou as apostas a respeito de quando o banco central da zona do euro irá revelar detalhes do seus planos de redução do programa de estímulo.
Em uma pesquisa da Reuters realizada entre 28 e 31 de agosto, 46 de 66 analistas esperam que o banco central anuncie uma mudança em outubro.
Apenas três semanas antes da mais recente pesquisa, pouco mais da metade dos economistas entrevistados afirmavam que um anúncio como esse aconteceria em setembro.
Agora, apenas 15 entrevistados esperam o anúncio na reunião de definição de política de 7 de setembro com outros cinco economistas sugerindo que os mercados teriam que esperar até dezembro.
Essa pesquisa foi realizada antes das informações de fontes do BCE citadas pela Bloomberg de que o Conselho Administrativo do banco central poderia não estar pronto para finalizar a decisão sobre o plano de compra de títulos no ano que vem até algumas semanas antes do atual programa encerrar no final deste ano.
Em algumas notas aleatórias de analistas aos clientes sobre expectativas do BCE, é provável observar que os especialistas acreditam muito que quinta-feira é "muito cedo" para quaisquer detalhes concretos a serem anunciados e que suas expectativas mudaram para a reunião de 26 de outubro.
Mudança no viés do QE
Entretanto, isso não significa que a declaração de quinta-feira e a posterior entrevista coletiva não terão nada a ser observado.
"Acreditamos que o BCE dará indicações sobre a redução do QE, a ser anunciada no fim deste ano, ao modificar sua forward guidance", escreveu o Morgan Stanley em sua previsão aos clientes.
"Ao invés de afirmar que está pronto para aumentar o programa QE em termos de tamanho e/ou duração caso necessário, o banco central provavelmente retirará qualquer referência à possibilidade de aumentar as compras mensais, embora continue a dizer que poderia comprar por mais tempo", explicaram esses analistas.
Euro em foco
Além disso, o BCE apresentará projeções econômicas atualizadas com uma melhora na perspectiva de crescimento e uma ligeira redução nas projeções de inflação, tornando quaisquer comentários sobre a recente força do euro um grande foco de atenção na reunião.
De fato, com Draghi e sua equipe lutando para levar a inflação em direção a seu objetivo de 2%, vários analistas alertaram sobre as consequências da força da moeda única.
O Société Générale calculou que uma valorização de 10% no par EUR/USD levaria a uma redução de 30 pontos base na inflação pelos próximos seis semestres, ao passo que o Goldman Sachs observou que uma taxa de câmbio mais forte deixa a zona do euro em uma posição mais fraca para absorver o impulso negativo do crescimento global.
"Esperamos que Mario Draghi expresse preocupação sobre isso e mencione explicitamente que o euro mais forte é o principal motivo pelo qual o BCE reduziu sua projeção de inflação e que há mais fiscos negativos", analistas do Danske Bank escreveram em sua previsão do BCE.
"Dito isto, Draghi ainda teria alguma agressividade em seu tom em nossa visão (...) porque a dinâmica de crescimento permanece forte, o que foi anteriormente um de seus argumentos por que a inflação eventualmente irá subir", acrescentaram.
Economistas do ING concordaram que o euro mais forte tornará o BCE mais cauteloso ao comunicar a redução do programa de estímulo e sugeriram que o banco central tem duas opções:
"Ou anuncia os detalhes de uma redução muito pacífica começando em janeiro na esperança de que esclarecimento total traga a calma de volta, ou atinge um equilíbrio cauteloso entre oferecer as primeiras indicações da iminente redução e tons pacíficos, como se alertasse contra um endurecimento injustificado das condições financeiras para acalmar os mercados cambiais", explicaram.
"Como o BCE provavelmente não é unânime em relação à primeira opção, esperamos que a quinta-feira será novamente sobre o que Draghi não diz ao invés do que ele diz", concluíram esses especialistas.