Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - A Petrobras (BVMF:PETR4) de hoje é um negócio de upstream, que opera com custos e capex mais baixos e um FCF mais forte, afirma o Goldman Sachs (NYSE:GS). Para o banco, a empresa possui muito mais independência do governo atualmente do que tinha dez anos atrás.
Assim, uma possível intervenção na política de preços dos combustíveis da Petrobras, semelhante ao que acontecia entre 2011 e 2015, conduziria provavelmente a um resultado menos negativo, dado ao fato de que a empresa está numa posição financeira mais forte.
Essa visão faz parte de uma análise realizada pelo Goldman Sachs sobre o que mudou dentro da Petrobras desde 2011, quando a intervenção governamental na companhia era mais acentuada.
No ciclo 2011-15 a interferência do governo na política de precificação de combustíveis, combinada com alocação de capital ineficiente, levou a FCF negativo e aumento da alavancagem, com Dívida Líquida/Ebitda de 4,3x em 2015, contra 1,5x em 2011.
O período 2016-1S21 foi marcado por uma sólida recuperação liderada pela nova administração, com convergência para preços internacionais de combustíveis, otimização de capex e vendas de ativos não essenciais. Mais recentemente, o período 2S21-2022 foi marcado por pagamentos de dividendos significativos, após a conclusão do processo de desalavancagem no ciclo anterior e maior foco no retorno aos acionistas.
O banco destaca, porém, que não se pode negar que uma intervenção na companhia teria um impacto negativo, mesmo que menor do que o visto anteriormente. Ainda assim, o Goldman Sachs não vê gatilhos sobre as ações da Petrobras no momento, apesar de que as eleições presidenciais devem continuar trazendo volatilidade para o papel.
O Goldman Sachs mantém a sua indicação de compra, com um preço-alvo de R$ 31,70 para as ações preferenciais, de R$ 34,90 para as ações ordinárias e de US$ 13 para as ADRs negociadas nos Estados Unidos.
Tese de Investimentos: Reajustes e interferências movem ações da Petrobras
Melhora no FCF
Olhando para os números atuais da Petrobras, o Goldman Sachs explica que o FCF da companhia de hoje é melhor que o de 2011, devido a um menor capex upstream, já que a Petrobras está colhendo os investimentos feitos no pré-sal na última década.
Cerca de 70% da produção total da Petrobras vem do pré-sal, que tem custos unitários muito mais baixos de US$ 5,19/bbl, em relação ao pós-sal, de US$ 14,47/bbl, e aos campos de águas rasas e terrestres, de US$ 17,23/bbl, segundo números reportados no 2T22. Isso faz com que o custo unitário consolidado em E&P esteja agora em US$ 7,7/bbl, bem abaixo do observado em 2011 de US$ 12,6/bbl.
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Benefícios dos dividendos
O Goldman Sachs também aponta que as distribuições recentes de dividendos da Petrobras também criam um cenário diferente sobre a possível intervenção política na companhia. Isso porque boa parte dos valores pagos são destinados ao governo, o maior acionista da empresa. O banco estima que em 2022E, o dividend yield para o Estado seja de 51%.
Além dos dividendos, os impostos corporativos são pagos ao governo e agora são mais altos devido à maior lucratividade atualmente. Esses dois fatores reduzem o incentivo para que o presidente intervenha na estatal.
A expectativa do Goldman Sachs é que no 3T22, o dividend yield da Petrobras seja de 12% e no 4T22, de 7%.
Previsões para 2023
Em 2023, a Petrobras iniciará um novo ciclo, na visão do Goldman Sachs, que observa dois possíveis cenários. O primeiro mostraria uma empresa administrada por um novo governo com a consolidação de retornos de capital consistentes para os investidores, enquanto a segunda seria sobre a implementação de medidas visando reduzir os preços dos combustíveis e aumentar os investimentos em renováveis e segmentos de refino.
Independentemente de qual cenário se concretize, o Goldman Sachs acredita que o novo estatuto social da Petrobras e as leis de governança aprovadas após 2016 funcionem como barreiras de proteção contra ideias intervencionistas.
Às 11h53, as ações da Petrobras subiam 1,23%, a R$ 32,94.