SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A redução do endividamento da Petrobras será prioridade no novo plano de investimento da empresa, a ser divulgado nos próximos 30 dias.
"O grau de alavancagem da companhia é elevado... É desejável e será feito um processo de busca de desalavancagem, com maior eficiência operacional, redução do capex, aumento dos desinvestimentos, priorização em projetos de maior retorno...", afirmou nesta quinta-feira o diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro, em teleconferência para comentar os resultados de 2014.
A Petrobras encerrou dezembro com endividamento bruto de 351 bilhões de reais, alta de 31 por cento sobre o fim de 2013. A relação entre dívida líquida e Ebitda, um indicador de alavancagem da companhia, subiu para 4,77 vezes, ante 3,52 vezes um ano antes.
O alto grau de alavancagem foi um dos temas mais criticados por analistas após a divulgação dos dados, na noite de quarta-feira.
Segundo o Itaú BBA, presumindo preços de diesel e gasolina estáveis até o encerramento de 2016 e um dólar a 3,4 reais, a alavancagem da Petrobras pode atingir 6,1 vezes até o fim do próximo ano.
Monteiro admitiu, ao comentar o prejuízo de 21,6 bilhões de reais do ano passado, após contabilização de perdas de 6,2 bilhões de reais por corrupção e redução de mais de 44 bilhões de reais o valor de seus ativos, que a dívida da estatal está acima das principais companhias de petróleo, mas ressaltou que essas petroleiras não tiveram a "mesma possibilidade de investimento que se vislumbrou para a Petrobras", como os campos do pré-sal.
O executivo não deu mais detalhes durante a teleconferência sobre como será feita a desalavancagem ou outras métricas do plano.
As ações ordinárias da Petrobras ampliavam a alta em quase 6 por cento na tarde desta quinta-feira, depois de terem caído mais de 6 por cento no começo do dia, com investidores digerindo declarações de executivos da estatal sobre o balanço auditado divulgado na noite da véspera.
As ações preferenciais, que chegaram a cair quase 10 por cento mais cedo, anularam perdas, por volta das 14h50.
INVESTIMENTOS
A Petrobras vai reduzir seus investimentos anuais de forma gradativa até 2016, segundo diretrizes relatadas na véspera.
A previsão da companhia é investir 29 bilhões de dólares neste ano e 25 bilhões de dólares em 2016, enquanto o investimento em 2014 somou 35 bilhões de dólares.
Os executivos da estatal explicaram ainda que a redução de investimento não poderia ser maior porque a empresa vem de um histórico de volumes investidos bastante expressivos, acordados anteriormente.
O plano atual, para o período 2014-2018, prevê investimentos de 220,6 bilhões de dólares, o maior da indústria. O novo programa deve envolver o período de 2015 a 2019.
PRÉ-SAL
A Petrobras, que anunciou um robusto plano de desinvestimentos de cerca de 13 bilhões de dólares, não prevê vender ativos do pré-sal em produção, considerados a prioridade da companhia, disse a diretora de Exploração e Produção da companhia, de Solange Guedes.
Mas a empresa avaliará a possibilidade de desinvestimentos em projetos em início de exploração, que demandarão investimentos crescentes. "Está avaliando desinvestimento sim, para buscar agregar valor", afirmou ela durante a teleconferência.
Executivos da Petrobras destacaram ainda que a carteira de desinvestimentos é "extremamente dinâmica", uma vez que a companhia procura obter o maior valor possível.
Na véspera, a empresa disse que a maior parte do desinvestimento no plano, ou 10 bilhões de dólares, deverá ser realizado em 2016.
A diretora lembrou que a Petrobras está focando a carteira exploratória em ativos de baixo risco, acrescentando que a empresa vai postergar projetos de baixo retorno ou que demandem investimento inicial prolongado.
DECLÍNIO
A diretora de Exploração e Produção afirmou aos analistas e investidores que a estatal parou uma unidade de produção e deve parar outra entre 2015 e 2016 em águas rasas da Bacia de Campos pela inviabilidade econômica.
Observou também que é esperado declínio natural de produção de cerca de 200 mil barris/dia em 2015, e que as metas de crescimento da extração nos próximos anos levam em consideração essa situação.
Na véspera, a petroleira apontou que a produção de óleo e gás, no Brasil e no exterior, deve crescer de 4,76 por cento na média deste ano frente a registrada em 2014, para 2,796 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d).
Isso apesar de um impacto maior de paradas programadas de plataformas.
A Petrobras prevê, segundo a diretora, que tais paradas impactarão a produção em 50 mil barris/dia em 2015, ante 30 mil barris/dia em 2014.
DIVIDENDOS
A Petrobras pagará dividendos e juros sobre capital próprio referentes a 2015 se tiver resultados positivos neste ano, "como faz normalmente", afirmou o diretor financeiro da petroleira ao responder pergunta durante a teleconferência.
Por conta do prejuízo bilionário, a companhia anunciou que não pagará dividendos referentes a 2014.
No centro das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, a empresa disse na véspera que não pagará dividendos para preservar caixa, mesmo tendo mais de 100 bilhões de reais em reservas de lucros no fim de dezembro.
(Por Roberto Samora e Marta Nogueira)