Por Andrei Khalip
LISBOA (Reuters) - A renúncia de António Costa do cargo de primeiro-ministro de Portugal na terça-feira em meio a uma investigação de corrupção trouxe um fim ignominioso para seus oito anos de governo, durante os quais ele tornou Portugal, antes visto como patinho feio da Europa, querido pelos investidores e pelos pares da União Europeia, sendo visto como um paraíso de estabilidade fiscal.
Os esforços dele para atrair investimentos para Portugal após sua quase falência e resgate em 2011 podem ter desempenhado um papel importante em sua queda, com a investigação se concentrando em supostas ilegalidades na condução pelo governo de projetos auspiciosos de vários bilhões de euros para extrair lítio e produzir hidrogênio.
Costa, de 62 anos, nega ter cometido qualquer irregularidade.
Alguns desses projetos e planos governamentais de longo prazo que envolvem o uso de recursos da UE podem estar comprometidos, mas a maior parte do legado econômico de Costa provavelmente perdurará, segundo analistas.
Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, espera pouco impacto da crise no mercado financeiro graças à forte reputação que o país construiu nos últimos anos com suas políticas econômicas.
Embora Portugal tenha desfrutado de seu mais longo período de crescimento em décadas e reduzido a dívida pública sob a administração de Costa, o socialista teve pouca popularidade no país devido à frugalidade de seus sucessivos governos e a vários escândalos envolvendo autoridades escolhidas a dedo.
Do ponto de vista político, muitos analistas atribuem a Costa e suas impressionantes habilidades de negociação a conquista de um feito quando ele conseguiu uma aliança pós-eleitoral no Parlamento em 2015 com partidos de extrema-esquerda para tirar a centro-direita do poder.
O apoio da extrema-esquerda havia evaporado no início de seu segundo mandato em 2019, pois seus parceiros exigiram mais gastos sociais e se opuseram aos cortes de déficit pelos quais Costa e seus ministros das Finanças foram elogiados em Bruxelas.
ALCANÇANDO O IMPOSSÍVEL
Mas quando seu governo entrou em colapso no final de 2021, como consequência da rejeição do projeto de lei orçamentária pelo Parlamento, Costa novamente desafiou as probabilidades, com seu partido conquistando na eleição uma maioria absoluta na Assembleia da República.
"Ele disse que uma maioria absoluta não é sinônimo de poder absoluto. Que exemplo de liderança democrática", afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz, em abril sobre a reeleição de Costa.
Antes de se tornar primeiro-ministro, Costa foi prefeito de Lisboa de 2007 a 2015, aproveitando o boom do turismo na época para desenvolver a capital.
Muitos políticos e analistas afirmaram que Costa se tornou arrogante em seu terceiro mandato, o que se refletiu em sua decisão de manter o ministro da Infraestrutura, João Galamba, apesar da pressão do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e da opinião pública para demiti-lo devido às controvérsias em torno da companhia aérea estatal TAP em janeiro de 2023.
Mas Costa obteve vários sucessos, incluindo o ritmo de crescimento mais rápido em 35 anos em 2022 e um superávit orçamentário projetado para este ano e o próximo.
Costa pode estar saindo sob uma nuvem, mas, em última análise, ele pode ser lembrado por recuperar uma economia moribunda, disse Brzeski, do ING.
"Isso encerra um governo que claramente levou a economia a alguns anos dourados e administrou a transição da austeridade para o crescimento", afirmou Brzeski.
(Reportagem adicional de Jesus Aguado)