Investing.com – A elevação na taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) e a perspectiva de continuidade do ciclo de alta deve afetar as empresas da bolsa de valores, que podem ser impactadas de forma positiva ou negativa, a depender do setor e nível de endividamento.
Empresas voltadas à economia doméstica, principalmente varejistas e construtoras direcionadas à baixa renda, tendem a ser pressionadas neste cenário, enquanto companhias do setor financeiro e de utilities podem ser beneficiadas, de acordo com analistas consultados pelo Investing.com Brasil.
Quem perde: foco doméstico, varejo, construtoras, empresas endividadas
A alta na Selic pode impactar negativamente setores mais sensíveis à alta dos juros, afirma Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, citando consumo e varejo, “limitando uma resposta mais otimista da bolsa no curto prazo”.
João Daronco, analista da Suno Research, entende que grande parte dos setores e empresas domésticas sofrem com os juros elevados, principalmente pela contração no consumo e pelas maiores despesas financeiras. O peso deve ser maior para setores como varejo e construção civil, em sua visão.
O analista independente Sérgio Cachoeira concorda que o varejo tende a passar por um cenário desafiador, principalmente companhias que dependem muito de vendas financiadas, incluindo Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) e Casas Bahia (BVMF:BHIA3).
“Elas são diretamente prejudicadas pela alta dos juros, uma vez que o custo do crédito ao consumidor aumenta. Em um ambiente de Selic elevada, as compras de bens duráveis, como eletrodomésticos e eletrônicos, se tornam menos acessíveis, já que as parcelas de financiamento ficam mais caras, desestimulando o consumo”, completa Cachoeira, mencionando ainda pressão sobre o poder de compra do consumidor, além do aumento dos custos de financiamento.
Fernando Bresciani, analista do Andbank, também acredita que a alta de juros é negativa para consumo, afetando setores como varejo, construção civil e outros relacionados. “As empresas endividadas também se dão mal, porque o custo da dívida fica maior”, alerta, indicando que companhias com caixa terão situação mais vantajosa.
A visão é compartilhada por Marcos Moreira, sócio da WMS, que diz que setores mais cíclicos e mais ligados a teses de consumo, de crescimento econômico, têm perspectivas negativas, também citando Magalu e Casas Bahia, além de construtoras, principalmente as de baixa renda.
“Grande parte da venda dos imóveis de construtoras de baixa renda são imóveis financiados. Por mais que contam com subsídio, com incentivos do governo, quando a taxa básica de juros é mais elevada, o custo do financiamento também tende a subir, o que acaba desestimulando as famílias a fazerem compras e aquisições de imóveis que possam ser financiados a uma taxa, a um custo mais elevado”, conclui.
Quem ganha: financeiro, incluindo bancos e seguradoras, utilities
Entre as vencedoras, Daronco destaca as seguradoras. “Isso porque essas empresas deixam o dinheiro float investido em ativos de renda fixa. Com isso, o aumento dos juros impacta positivamente o resultado financeiro dessas companhias”, entende o analista da Suno.
Cachoeira também vê que, entre as mais beneficiadas, estão as seguradoras, principalmente a BB Seguridade (BVMF:BBSE3). “Empresas desse setor costumam ter boa parte de seus resultados atrelada ao desempenho financeiro de seus investimentos. Com a Selic em níveis elevados, o rendimento de aplicações em renda fixa, como títulos públicos, aumenta, impactando positivamente o resultado financeiro dessas companhias”.
No caso específico do papel da BB Seguridade, Cachoeira detalha que o impacto do resultado financeiro é extremamente relevante para o lucro total, pois a elevação na Selic fomenta a receita. Assim, a companhia, e o setor como um todo, tendem a atravessar esses períodos com resultados sólidos.
Além do setor bancário, Bresciani menciona como beneficiadas empresas ligadas a tarifas públicas. “O aumento da inflação acaba sendo repassado para as tarifas públicas. Então o setor de transmissão de energia elétrica, telefonia, esses setores acabam recuperando tudo isso, melhorando a margem”.
Moreira concorda que o setor financeiro deve se beneficiar da Alta da Selic, principalmente os bancos, pelo fator spread de crédito, que tende a aumentar. “O spread é basicamente a diferença entre o valor do banco, o custo de captação do recurso para o banco e o quanto ele consegue emprestar na outra ponta”, reforça, citando instituições como Itaú (BVMF:ITUB4) e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), este com uma carteira de crédito considerada como mais robusta, voltada para o agronegócio.