O mercado de juros se acalmou ao longo da sessão, após estresse na primeira parte dos negócios ante a possibilidade de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocar em pauta a Medida Provisória (MP) 1000, que trazia risco de extensão do pagamento do auxílio emergencial para além de dezembro e, que, se prosperasse, seria considerada uma "bomba fiscal". A MP incluía ainda o 13º salário do Bolsa Família. O alívio só veio quando o ministro Paulo Guedes afirmou que a proposta de pagamento do benefício não foi encaminhada para não configurar crime de responsabilidade fiscal, no começo da tarde. A partir de então, o mercado operou em banho-maria, fechando com taxas perto da estabilidade. Na semana, houve discreto ganho de inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular estável em 2,97% e estendida em 2,965%, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 4,415% (regular) e em 4,405% (estendida), de 4,405% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2025 terminou a regular com taxa de 5,92% e a estendida em 5,91%, de 5,934% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 fechou a 6,70% (regular e estendida), de 6,74%. Ante a última sexta-feira, o diferencial entre os DIs para janeiro de 2022 e janeiro de 2027 passou de 369 pontos-base para 373 pontos.
Rogério Braga, Diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, relata que o mercado abriu tenso com a perspectiva de votação da MP, mas depois os ânimos arrefeceram com as declarações de Guedes, lidas como um reforço na sinalização de responsabilidade fiscal. "O mercado foi entendendo que era mais retórica do que qualquer outra coisa e que, mesmo se Maia pautasse a MP, seria uma longa trajetória de tramitação", disse.
Maia ameaçou pautar a MP após o presidente Jair Bolsonaro ter dito ontem que "não teve 13º para Bolsa Família este ano porque presidente da Câmara deixou a MP caducar". "É mentiroso. É quase uma molecagem", rebateu Maia ao Estadão/Broadcast, uma vez que o governo não mandou nenhuma proposta ao Congresso para garantir o benefício a mais em 2020, o que foi hoje explicado por Guedes. "Se der 13º do Bolsa pelo segundo ano seguido, é crime de responsabilidade porque não houve provisão", disse o ministro.
"Os ruídos políticos devem persistir enquanto não ficar definido o novo presidente da Câmara, mas por outro lado, aos 'trancos e barrancos' foi aprovada a LDO", avalia o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.
Entre os fatores macroeconômicos que ajudam a moldar o desenho da curva, Braga afirma que os dados de varejo na ponta já estão vindo fracos, sugerindo um cenário mais cauteloso de atividade para o começo do ano quando a economia não terá mais o impulso do auxílio emergencial.