Por Andrew Cawthorne e Girish Gupta
CARACAS (Reuters) - O veterano diplomata norte-americano Thomas Shannon se encontrou com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta quarta-feira por cerca de duas horas para reiniciar as conversas entre os dois governos ideologicamente opostos em meio a uma grave crise econômica no país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Shannon, que realizou uma reaproximação semelhante e frustrada no ano passado motivada pela prisão do líder opositor Leopoldo López, também se reuniu com figuras da oposição e ativistas em sua visita a Caracas.
Durante 17 anos de governo socialista sob o comando de Maduro e de seu mentor e antecessor Hugo Chávez, a Venezuela substituiu Cuba no posto de principal provocador de Washington nas Américas.
Os Estados Unidos estão apoiando uma iniciativa da oposição para a realização de um referendo revogatório ainda este ano que pode tirar Maduro do poder. Mas na semana passada o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e a ministra venezuelana das Relações Exteriores, Delcy Rodríguez, concordaram em retomar as conversas.
Shannon e Maduro, de 53 anos, se encontraram depois do almoço no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas. Maduro, em seguida, apareceu diante de milhares de simpatizantes na capital.
"Nunca é tarde demais", disse o presidente, vestido com uma camisa e blazer, em vez de seu agasalho habitual. "Eu espero que o presidente Obama retifique a posição que tem defendido nos últimos oito anos contra a revolução."
Na terça-feira, Shannon se reuniu com líderes oposicionistas como Henrique Capriles, candidato presidencial em duas ocasiões que perdeu para Chávez e Maduro e agora encabeça a batalha pelo referendo.
Maduro pode estar esperando que a reunião reduza a pressão internacional que vem sofrendo, opinaram analistas e diplomatas, enquanto Washington provavelmente calcula que uma reaproximação irá minar a atribuição de culpa constante dos problemas da Venezuela a seus inimigos "imperialistas".
"Kerry indicou na semana passada que os EUA querem ver um referendo revogatório este ano, e conversas bilaterais irão ajudar a anular o que de outra forma seria munição para Maduro declarar que os EUA estão tentando derrubar seu regime", disse a consultoria Eurasia.
Shannon, que foi embaixador no Brasil e hoje é subsecretário de Estado de Assuntos Políticos e fala espanhol e português, deve pressionar pela libertação de oponentes presos, entre eles López. O político e ex-prefeito foi condenado a 14 anos de prisão por supostamente instigar manifestações anti-Maduro em 2014 que causaram a morte de 43 pessoas dos dois campos políticos.