Por Dominique Patton e Hallie Gu
PEQUIM (Reuters) - A China anunciou nesta segunda-feira que irá impor pesadas taxas sobre importações de açúcar, após um movimento de usinas domésticas em prol da medida, mas especialistas dizem que a regra pode não ser o suficiente para conter o fluxo do produto barato para o maior importador do mundo.
A regra, que deverá afetar cerca de um terço das importações anuais de açúcar da China, introduz uma tarifa extra para os próximos três anos sobre embarques que o governo disse que "impactam seriamente" a indústria doméstica.
O movimento pode prejudicar importações procedentes dos maiores produtores como Brasil e Tailândia, uma vez que reduzirá a diferença entre os preços chineses e os internacionais. O açúcar na China custa quase o dobro dos preços no mercado de Londres.
Mas operadores dizem que as tarifas maiores devem também impulsionar mais contrabandos nas fronteiras ao Sul da China, enquanto algumas importações junto aos grandes produtores podem ser embarcadas por meio de países terceiros, excluídos das tarifas.
O açúcar é um dos poucos setores em que a China luta para competir, dados custos maiores de sua produção por meio de pequenas propriedades. O país produz cerca de 10,5 milhões de açúcar de cana e beterraba ao ano, mas importa outros 3 milhões. Pequim ainda combate cerca de 2 milhões de toneladas ao ano em contrabandos, disseram fontes.
"É claro que isso vai apoiar a indústria doméstica por algum tempo", disse um operador na China. "(Mas) o mercado global de açúcar bruto só precisa cair um pouco abaixo de 15 centavos" para tornar lucrativo importar para a China.
Os preços globais do açúcar bruto eram negociados um pouco cima de 16 centavos de dólar por libra-peso nesta segunda-feira.
REGRAS
A China atualmente permite 1,94 milhão de toneladas em importações de açúcar com uma tarifa de 15 por cento, como parte de um acordo com a Organização Mundial do Comércio.
Importações além disso têm uma tarifa de 50 por cento. E as regras desta segunda-feira impõem uma tarifa adicional de 45 por cento para essas importações no atual ano fiscal, segundo nota do Ministério do Comércio da China. A tarifa total, assim, vai para 95 por cento, uma alíquota que cairá para 90 por cento ano que vem e 85 por cento no ano seguinte.
As medidas também devem elevar a pressão para que Pequim venda mais de suas reservas estatais para evitar que a oferta fique limitada e eleve os preços.
Os futuros do açúcar inicialmente caíram mais de 1 por cento com as notícias, mas depois reduziram perdas, com operadores interpretando o movimento, que ficou em linha com uma proposta inicial apresentada em abril, como muito brando para conter os embarques.
A Tailândia, terceira maior produtora global, minimizou o impacto.
As usinas do país têm custos de embarque para a China muito menores que seus rivais Brasil e Austrália, disse o presidente do conselho da Corporação de Usinas de Açúcar da Tailândia, Viboon Panitwong, que não espera que a tarifa afete significativamente as exportações do país.
(Por Dominique Patton and Hallie Gu; reportagem adicional de Patpicha Tanakasempipat em Bankok)