Depois de um processo de avaliação intenso de 20 meses nos Estados Unidos, a FAA (agência de aviação civil norte-americana) rescindiu, na quarta-feira, 18, a ordem de proibição de voo do Boeing 737 Max, assinada em 13 de março de 2019. A liberação não significa a volta imediata do modelo aos céus, mas representou um passo importante na empreitada da fabricante norte-americana.
Diante do cenário de pandemia, o modelo é bastante aguardado pelas companhias aéreas em todo o mundo - como é o caso da brasileira Gol (SA:GOLL4) - por consumir 15% menos combustível do que a versão anterior, além e ter mais assentos. Depois do sinal verde, os olhares aqui no Brasil se voltaram para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que terá de dar o seu veredicto para que então a aeronave possa voar novamente em território nacional. A aposta de fontes, entretanto, é que algo já saia nos próximos dias.
Além de rescindir a ordem de proibição de voo, a FAA publicou também uma diretriz de aeronavegabilidade, que aponta melhorias de software e técnicas a serem feitas e realização de treinamento de pilotos, processo que será acompanhado pela agência norte-americana.
A FAA explicou que na revisão, a sua equipe trabalhou para identificar e resolver questões de segurança que influenciaram nos dois acidentes aéreos que deixaram 346 mortos - em outubro de 2018 (da Lion Air, na Indonésia) e em março de 2019 (Ethiopian Airlines, na Etiópia). A revisão se debruçou também sobre o sistema de pilotagem MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System), que teria dificultado a pilotagem nos dois acidentes.
"Jamais nos esqueceremos das vidas perdidas nos dois trágicos acidentes que levaram à decisão de suspender as operações", disse David Calhoun, CEO da Boeing (NYSE:BA); (SA:BOEI34). "Esses acontecimentos e as lições que aprendemos com eles redefiniram nossa empresa e concentraram ainda mais nossa atenção em nossos valores fundamentais de segurança, qualidade e integridade".
Segundo a Boeing, as companhias aéreas nos Estados Unidos podem tomar as medidas necessárias para a retomada da operação e a fabricante pode agora voltar a fazer as entregas. No Brasil, a única a operar o Max é a Gol, que tem na sua frota sete aeronaves do modelo, além das encomendadas.
No começo do imbróglio, a fabricante norte-americana foi muito criticada por políticos dos Estados Unidos, que apontaram pressão por parte da Boeing para a liberação. A própria empresa chegou a dar diversos prazos para a retomada, mas todos frustrados. A crise colaborou para a saída do então CEO da empresa, Dennis Muilenburg, em dezembro passado.
"Dissemos desde o início que iríamos levar o tempo necessário para fazer isso (revisão) da forma correta. Nunca fomos guiados por um prazo, mas sim por um processo metódico", disse o chefe da FAA, Steve Dickson, em vídeo compartilhado nas redes nesta quarta-feira.
Em agosto, a FAA liberou uma proposta de diretriz de aeronavegabilidade, que ficou em consulta pública. Dickson disse que a agência recebeu mais de 550 sugestões e comentários acerca do texto. "Depois da nossa avaliação nos últimos 20 meses e da minha experiência pessoal voando o Max, eu posso dizer a vocês que eu estaria 100% confortável em ter minha família voando em um Max nesta manhã", afirmou Dickson.
O voo no Brasil não dependerá apenas da FAA, uma vez que a suspensão do Max foi sancionada por uma Diretriz de Aeronavegabilidade unilateral emitida pela Anac logo após a agência norte-americana. Essa diretriz terá de ser suspensa, mas a agência brasileira tem trabalhado junto à FAA desde 2019 e a aposta de especialistas é que o sinal verde por aqui não será um problema, e um desfecho favorável deve sair nos próximos dias.
"A partir desta diretriz da FAA, a Anac procederá com os ajustes finais para conclusão do processo de validação", disse a agência, em nota. Após esse trabalho, a Gol deverá incorporar e demonstrar "de forma satisfatória o cumprimento de todas as novas diretrizes, tanto em termos de projeto quanto de treinamento de pilotos".
Em nota, a Gol afirmou que a revogação da suspensão do Max é um importante marco para a companhia. "A partir da liberação oficial da ANAC, estimamos que o 737 MAX retorne a voar em nossa frota em até 30 dias". Por causa da crise da covid-19, a aérea reduziu de 129 para 95 o cronograma de recebimentos de Boeing 737 MAX previstos para 2020-2022. A Gol já havia conseguido um acordo de indenização de US$ 412 milhões com a fabricante.
De acordo com o sócio-fundador do Fenelon Advogados, Ricardo Fenelon Junior, o convite para que outras agências participassem do processo de revisão foi importante. "O objetivo foi exatamente passar uma mensagem única de que quando a FAA entendesse que o MAX está pronto para voltar a voar, haveria consenso entre as outras autoridades. Diferentemente do que aconteceu quando decidiram suspender os voos, em que alguns países tomaram a decisão antes dos Estados Unidos", disse. Sobre a liberação no Brasil, Fenelon disse que a tendência é sair muito em breve, já que Anac e Gol participaram do processo.
Fenelon, que foi diretor da Anac por quatro anos (2015 a 2019), acrescentou que a pandemia ajudou a diminuir a pressão sobre a Boeing ao deixar a frota da empresa parada. "Por outro lado, nesse momento de redução de custo, seria muito importante para as companhias terem a opção de utilizar uma aeronave de última geração e mais econômica como o MAX", explicou.