Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A fabricante de armas Taurus está pronta para encarar a maior concorrência de produtos importados no Brasil depois que Jair Bolsonaro assinou decreto nesta semana autorizando abertura do mercado e com termos que facilitam a posse e transporte de armamentos, disse em entrevista à Reuters o presidente da companhia, Salésio Nuhs.
Segundo o executivo, o otimismo decorre de estratégia colocada em ação pela Taurus que aposta em ações para aumentar a proximidade da empresa com clientes e na musculatura obtida pela companhia em licitações globais de armamentos.
O decreto determina liberação de importação de armas, facilita o registro de novos locais de venda de armas, amplia as categorias profissionais que tem direito à posse e aumenta a quantidade de munição que pode ser comprada anualmente. A liberação da importação deve entrar em vigor em 60 dias, disse Bolsonaro na quarta-feira.
Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu nesta sexta-feira prazo de cinco dias para que Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, expliquem os termos do decreto, enquanto áreas técnicas do Senado e da Câmara dos Deputados viram ilegalidades no texto.
As ações da companhia exibiam queda de 7,75 por cento às 16h42, perto do final do pregão. No dia em que Bolsonaro assinou o decreto, a ação da Taurus subiu 10,45 por cento, avançando mais 17,6 por cento no dia seguinte.
"Se fora de casa a gente já ganha (concorrências); imagina dentro de casa com torcida a favor", disse Nuhs. Nos Estados Unidos, maior mercado da Taurus, a companhia é a quarta maior marca de armas de fogo.
Sem citar nome do país, Nuhs disse que nesta semana a Taurus venceu uma concorrência internacional para fornecimento de 4 mil armas a um país vizinho do Brasil. A disputa envolveu grandes fabricantes de armas internacionais.
"Disputar mercado faz parte do nosso cotidiano; não é uma preocupação e nos últimos anos nos preparamos para uma possível concorrência”, disse o presidente da Taurus, que até o final do ano deve duplicar sua capacidade produtiva nos EUA com a inauguração de uma nova fábrica no Estado da Georgia que vai substituir a unidade localizada na Flórida.
Em 2018, o mercado brasileiro foi o que teve o maior crescimento percentual na receita da Taurus com venda de armas, avançando 56,6 por cento sobre 2017, para 143 milhões de reais. Nos EUA, o crescimento foi de 15,8 por cento, para 627 milhões. Em unidades, a empresa teve vendas de 102 mil armas no país no ano passado, salto de quase 44 por cento sobre 2017.
Parte do otimismo de Nuhs decorre da inauguração em julho de um sistema digitalizado de relacionamento com clientes, que recebeu investimento de cerca de 5 milhões de reais da companhia. "Vamos nos comunicar nessa rede com o Brasil inteiro; com lojas, vendedores, balconistas de lojas, armeiros, assistência técnica para ter um contato com consumidor mais direto", afirmou o executivo, dando como exemplo capacidade da empresa em acessar em um banco de dados todos os clientes que compraram uma arma calibre 38.
O executivo, porém, criticou o decreto de Bolsonaro ao não tratar de isonomia tributária. Segundo Nuhs, sobre uma arma produzida no Brasil incidem impostos que representam até 73 por cento do preço.
"A gente acredita que o presidente exigirá a regulamentação tributária e regulatória para uma concorrência leal entre os fabricantes locais e estrangeiros, caso contrário nenhuma empresa virá produzir aqui", disse Nuhs.