Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs de curto prazo encerraram o dia em alta no Brasil, enquanto as de longo prazo se reaproximaram da estabilidade no final da sessão, com investidores acertando posições antes do anúncio do Copom sobre a Selic, na noite desta quarta-feira, e demonstrando ansiedade com um possível placar dividido no colegiado, fator que pode estressar ainda mais a curva de juros.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,695%, ante 10,668% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,315%, ante 11,285% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,63%, ante 11,634%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,13%, ante 12,142%, e o contrato para janeiro de 2033 marcava 12,14%, ante 12,151%.
Sem a referência do mercado dos EUA, que não funcionou por conta do feriado de Juneteenth, as taxas futuras subiram durante praticamente toda a sessão, com investidores adotando posições defensivas e exigindo mais prêmios antes do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O movimento foi amplificado pela liquidez mais baixa em função do feriado norte-americano.
“Se for para comprar renda fixa aqui, o investidor estrangeiro vai pedir um prêmio maior. Além disso, a possibilidade de descontrole inflacionário influencia a curva”, comentou durante a tarde o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado. “É um movimento de proteção.”
Com a proximidade do fim da sessão, no entanto, as taxas desaceleraram seus ganhos, encerrando praticamente estáveis ante os ajustes anteriores na ponta longa, com investidores à espera do Copom.
No mercado há quase um consenso, precificado na curva a termo, de que o Banco Central manterá a taxa básica Selic em 10,50% ao ano, colocando um ponto final no atual ciclo de cortes.
A principal dúvida é se a votação será dividida, como no encontro de maio, ou se haverá unanimidade entre os nove dirigentes do BC. Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que se os quatro dirigentes indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votarem novamente em bloco, pelo corte da Selic, isso tende a estressar novamente os ativos, ainda que a taxa siga em 10,50% ao ano.
Após Lula ter criticado duramente na véspera o presidente do BC, Roberto Campos Neto, as atenções estarão voltadas principalmente para o voto do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, cotado para assumir o comando da autarquia a partir de 2025.
“A dura fala de Lula ontem complica em muito a decisão de Galípolo: se votar junto com Campos Neto pode perder a provável nomeação para presidente da instituição e, por outro lado, se votar para cortar os juros o BC poderá perder a mão do controle do dólar e da inflação”, resumiu o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.
“A falta de unanimidade é risco e, caso ocorra, ficará muito mais difícil para o Comitê reancorar as expectativas de inflação. O custo reputacional será muito elevado e demandará taxa Selic mais alta”, alertou.
Perto do fechamento desta quarta-feira a precificação da curva indicava 96% de chances de manutenção da Selic em 10,50%. Havia outros 4% de probabilidade precificados que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic.
Para o superintendente da mesa de derivativos do banco BS2, Ricardo Chiumento, um placar dividido -- com 5 a 4 pela manutenção ou 6 a 3 -- será uma notícia “bastante ruim”. Por outro lado, a manutenção da Selic por unanimidade teria potencial de desinflar o dólar e a curva de juros na quinta-feira.
“(Isso) seria o entendimento de que todos os membros do Copom estão preocupados com os movimentos recentes do mercado. De imediato, provavelmente teríamos uma melhora por conta de uma votação unânime. O perigo vai ser um 6 a 3, um 5 a 4”, comentou Chiumento.
“Com a última reunião, (o mercado) ficou um pouco caótico, porque estamos próximos da troca do governo no BC. É um Copom bastante tenso este de hoje”, acrescentou.