Investing.com – Analistas demonstram otimismo com a perspectiva de crescimento anual nos lucros na temporada de balanços referente ao terceiro trimestre deste ano, com início da divulgação dos indicadores marcado para esta semana. O cenário de atividade doméstica e renda fortes, mas dólar elevado, commodities pressionadas no contexto internacional e estiagem atrapalhando diversas culturas deve direcionar setores em direções distintas.
“Em termos de empresas específicas, acreditamos que Bradesco, Renner e Vibra poderão ser os destaques positivos do 3T24. Por outro lado, antecipamos que Banco do Brasil, Suzano e Carrefour podem ser os destaques negativos desta temporada de resultados”, elencou o Santander em relatório.
Veja o calendário da temporada de balanços brasileira nesta semana
Mercado espera crescimento anual nas principais métricas
As estimativas consensuais apontam para um crescimento anual das receitas em 10%, do Ebitda em 6% e do lucro por ação (LPA) em 12%, considerando as empresas que fazem parte do índice da bolsa de valores Ibovespa, conforme detalhado em relatório do Bank of America (NYSE:BAC) (BofA). No segundo trimestre, o crescimento anual dos mesmos indicadores atingiu 10%, 18% e 22%, respectivamente.
“Processadores de carne, serviços públicos e finanças podem ser os principais impulsionadores da expansão anual do LPA no terceiro trimestre. Excluindo commodities, o LPA do Ibovespa deve se expandir pelo 5º trimestre consecutivo”, disseram os estrategistas David Beker, Paula Andrea Soto, Carlos Peyrelongue e Mateus Conceição.
O crescimento anual esperado do Ibov ex-commodities seria de 9% para receitas, de 20% para Ebitda e 23% para o lucro, de acordo com os especialistas. No último trimestre, a expansão anual foi de 9%, 21% e 38%, na mesma ordem.
A temporada deve ser de resultados sólidos, continuando tendência do primeiro e, principalmente, do segundo trimestre, acredita Jennie Li, estrategista da XP (BVMF:XPBR31).
“No segundo trimestre, a gente viu uma recuperação mais forte nos resultados das empresas depois de um 2023 que foi mais difícil, com contração de lucros das empresas brasileiras”, recorda Li.
A expectativa é de uma boa temporada de resultados no 3T24 com crescimento de lucros, também espera o Santander (BVMF:SANB11), que entende que isto “também poderia ser um gatilho positivo para as ações brasileiras no curto prazo”.
Felipe Moura, analista da Finacap, também espera que a temporada deve ser positiva, como avaliou ter ocorrido no segundo trimestre, e tende a ser mais favorável na comparação anual. “A tendência de melhora deve continuar visível nos balanços”.
A pior parte da alta da Selic teria sido precificada nos balanços, acredita Moura. “Essa piora, por conta do efeito da Selic, já passou”, reforça o especialista, que afirma que o valuation da bolsa de valores brasileira está barato há três anos, mesmo com fundamentos percebidos como sólidos.
Consumo doméstico deve seguir em recuperação
A tendência é de continuidade da recuperação de companhias relacionadas ao consumo doméstico, em meio a comparações fáceis do ano passado, segundo analistas do Bank of America.
“Esperamos que o 3T24 seja positivo para varejistas de vestuário (clima relativamente mais seco e frio pode impulsionar as vendas), bancos (crescimento sólido do NII do cliente e qualidade de ativos estável), assistência médica (melhoria operacional contínua devido a maiores reajustes de preços), comunicação (forte crescimento das receitas), processadores de carne (baixos custos de grãos, fortes exportações e demanda sólida) e shoppings em menor grau”, destrinchou o BofA em relatório.
O cenário macro é mais favorável, com atividade resiliente, inflação relativamente controlada e taxa Selic menos restritiva que a observada no ano passado, o que deve levar empresas de consumo a continuarem a performar bem.
A atividade e os mercados de trabalho “continuaram a mostrar resiliência no Brasil durante o terceiro trimestre”, aponta o Santander, que pondera sobre a inflação acima da meta, mas abaixo da taxa observada em setembro de 2023, quando era de 5,2%.
Além disso, Aline Cardoso, Luane Fontes e Guilherme Bellizzi Motta observam que ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha retomado o ciclo de alta, a taxa básica era mais restritiva no terceiro trimestre do ano passado, pressionando os resultados das companhias.
Quem são os possíveis destaques positivos da temporada?
- Bancos: Bancos de grande porte, como Itaú (BVMF:ITUB4) e Bradesco (BVMF:BBDC4), devem apresentar dados sólidos, assim como as seguradoras, citou a Empiricus. “A redução da inadimplência, somada à Selic marginalmente mais alta, proporciona melhores margens”, destaca a analista Larissa Quaresma, analista da Empiricus, que vê o Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) como exceção, pois estaria altamente exposto ao setor agro. O Bradesco também foi elencado pelo Santander como possível destaque positivo.
- Incorporadoras de baixa renda: Outro setor que pode registrar resultados favoráveis é o de incorporação voltado à baixa renda, com empresas beneficiadas pelo programa habitacional do governo federal Minha Casa Minha Vida, com bons resultados. A Empiricus enxerga uma demanda forte, com queda nos custos após diminuição nas cotações de determinadas commodities.
- Shoppings de alta renda: Shoppings podem ser impulsionados pela diminuição da inadimplência, principalmente aqueles voltados para alta renda, como Iguatemi (BVMF:IGTI11), reforça a Empiricus.
- Exportadoras, principalmente de bens industriais: Com dólar apreciado em relação ao real, companhias exportadoras, com receitas na moeda americana, podem ter os resultados turbinados, segundo Li, da XP. Concordando com esse cenário, Quaresma elenca Weg (BVMF:WEGE3), Randon (BVMF:RAPT4) e Embraer (BVMF:EMBR3).
- Varejo: Com crescimento da economia robusto e renda das famílias em alta, as varejistas podem apresentar resultados mais favoráveis, apesar do aumento na taxa de juros ao longo de 2024. O cenário macro é mais favorável, compara Moura, o que deve levar empresas de consumo a continuarem a performar bem. Nesse contexto, o Santander entende que a Lojas Renner (BVMF:LREN3) pode ser uma das mais favorecidas, mas as tendências são positivas também para C&A (BVMF:CEAB3), Guararapes (BVMF:GUAR3), Grupo Mateus (BVMF:GMAT3), Smartfit (BVMF:SMFT3) e Natura (BVMF:NTCO3).
- Vibra: A ação da Vibra Energia (BVMF:VBBR3) foi apontada pelo Santander como possível beneficiada pelo cenário atual das distribuidoras. O banco estima margens melhores do que as esperadas pelo mercado, diante de um ambiente competitivo saudável e impactos positivos de medidas regulatórias.
Quais os possíveis destaques negativos?
- Exportadoras de commodities: Diante da queda na cotação das principais commodities, como minério de ferro, aço e petróleo, as empresas podem ter resultados pressionados, segundo Quaresma, Li e Moura. O Santander espera, por exemplo, resultados fracos para as empresas de celulose e papel como a Suzano (BVMF:SUZB3)
- Empresas com custos dolarizados: Assim como as companhias que possuem receita em dólar podem ser beneficiadas, aquelas que possuem custos na moeda americana, mas receita em reais, tendem a dados fracos e com pressão nas margens, de acordo com a Empiricus.
- Banco do Brasil: Analistas do Santander e da Empiricus entendem que a companhia pode ser um dos destaques negativos nesta temporada de balanços, em meio a sua exposição ao setor agro e a seca que afetou o Brasil nos últimos meses.
- Carrefour: Uma desaceleração de SSS na divisão cash & carry do Carrefour (BVMF:CRFB3) pode pressionar os resultados, além do limite do crédito rotativo, completaram os analistas do Santander.