Por Marta Nogueira e Gram Slattery
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Vale (SA:VALE3) apenas deverá retomar sua política de dividendos depois que os riscos aos seus negócios relacionados à pandemia do novo coronavírus forem eliminados, afirmaram executivos da mineradora nesta quarta-feira, em teleconferência com analistas e investidores de mercado.
A política havia sido suspensa no ano passado, após o rompimento de barragem de rejeitos em Brumadinho (MG), diante de grandes responsabilidades financeiras com reparações e indenizações.
Nesse caso, o diretor-presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, pontuou que as reparações necessárias estão sendo feitas "com qualidade" e que a empresa teria condições de já pagar dividendos neste ano. No entanto, pontuou que o coronavírus trouxe novas preocupações à empresa.
"O nível de incerteza é muito grande sobre o nosso negócio no mundo inteiro", afirmou Bartolomeu, destacando que ainda não há clareza sobre diversos elementos.
Até o momento, a Vale tem enfrentado a pandemia do Covid-19 com impacto limitado a suas operações. Em março, como medida preventiva de forma a aumentar a posição de caixa e preservar a flexibilidade financeira à luz das incertezas resultantes da pandemia, a Vale desembolsou 5 bilhões de dólares de suas linhas de crédito rotativo.
O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Luciano Siani, destacou que o montante veio para dar segurança principalmente caso impactos na demanda da China por minério fossem prolongados por mais tempo ou algumas de suas operações fossem afetadas pelo vírus de forma severa.
"Uma vez que as duas variáveis estejam estabilizadas, nosso objetivo é devolver os recursos... devolvidos os recursos, entendendo que a reparação (por Brumadinho) está sendo bem conduzida, nós temos perfeitas condições e situação econômica para fazer frente aos compromissos subsequentes da recuperação e pagar dividendos", afirmou Siani.
"Do ponto de vista financeiro, superadas as incertezas da pandemia, a companhia está pronta."
Os executivos também negaram que um possível acordo maior com o governo de Minas Gerais para reparações por Brumadinho fosse necessário para o retorno à política de dividendos.
A empresa informou em fevereiro que poderia realizar uma provisão adicional de até 2 bilhões de dólares caso fechasse um acordo adicional de indenização por danos coletivos e uma compensação adicional para a sociedade e para o meio ambiente devido ao desastre.
Siani reiterou que as conversas com o Estado mineiro continuam, de forma remota, mas sem data ou garantia de que um acordo seja concluído.
"Para fazer sentido para nós, precisamos de segurança jurídica. Encerrar todas as pendências jurídicas, todas, e ter um teto de valores. Se isso não for atingido, esse acordo não faz sentido para nós", reiterou.
VALE NOVA CALEDÔNIA
Sobre as operações de metais básicos da companhia em Nova Caledônia (VNC), localizadas em ilha do Pacífico Sul, Siani informou que a empresa recebeu ofertas não vinculantes envolvendo o ativo e que poderá ter mais informações sobre a questão nos próximos dois meses.
A empresa optou recentemente por paralisar a refinaria de VNC, o que deve ser concluído nos próximos dias e levará à produção exclusiva de NHC (Nickel Hydroxide Cake).
Segundo Siani, esse processo não exigirá despesas significativas e conta com algumas demissões.
"A estratégia de saída, basicamente, o cenário básico, é um processo de venda, iniciado em novembro e dezembro, e que está indo muito bem", afirmou.
"A diligência foi feita por várias partes, recebemos algumas ofertas não vinculantes, estamos em discussões com potenciais interessados e nós vamos ter clareza de quais são as condições para essa transação nos próximos um ou dois meses."