RIO DE JANEIRO (Reuters) - O medo de tiroteios, que só nos dois primeiros dias de julho chegaram a 30 no Rio de Janeiro, fez aumentar o uso de um aplicativo de alertas em tempo real para fugir das chamadas “rotas de balas perdidas”, que já deixaram dezenas de vítimas este ano.
O total de incidentes com armas de fogo notificados pelo app Onde Tem Tiroteio (OTT) chega a 2.879 até agora no ano de 2017, e cada vez mais pessoas têm utilizado a plataforma para se manterem informadas e tentarem fugir do perigo.
"A maior gratificação que o OTT hoje nos proporciona é justamente isso, são esses relatos de pessoas que conseguiram, graças a um alerta nosso, se livrar de uma situação adversa. São pais e mães que nos ligam, nos mandam mensagem agradecendo, porque os filhos estavam em uma situação completamente perigosa", disse Henrique Caamaño, diretor operacional do projeto, em entrevista à Reuters.
Criado no início de 2016, motivado por uma reportagem sobre uma vítima de tiroteio, o OTT começou inicialmente como uma página no Facebook para ajudar amigos próximos. Hoje, publica alertas sobre tiroteios e arrastões para cerca de 400 mil usuários em um aplicativo para Android e em contas em redes sociais. Por dia são registrados de 15 a 20 tiroteios.
A plataforma é alimentada por informações dos usuários, enviadas por aplicativos de mensagem e depois checadas em grupos criados para locais específicos da cidade, em no máximo cinco minutos.
“Tudo que envolva risco à sociedade, à população, a gente procura alertar no tempo real. Tiroteios, arrastões, manifestações em vias que impossibilitem o ir e vir das pessoas, manifestações com ônibus queimados, entre outros”, disse Caamaño, que faz parte do projeto desde outubro de 2016.
De acordo com os dados mais recentes divulgados pela Secretaria de Segurança do Estado, o número de homicídios aumentou para 2.329 no Rio de Janeiro nos cinco primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
O número de pessoas mortas pela polícia em tiroteios durante os cinco primeiros meses do ano saltou quase 50 por cento em comparação com os mesmos meses do ano anterior, totalizando 480 mortes.
As autoridades estaduais não registram os números de pessoas atingidas por balas perdidas, mas o número de casos relatados na mídia tem aumentado junto com os casos de violência em geral.
Na semana passada, Claudineia dos Santos, que estava grávida de nove meses, foi atingida por uma bala perdida que também acertou seu filho dentro da barriga. A polícia disse que trocou tiros com suspeitos na região onde a mulher mora.
Após uma cesariana de emergência, médicos disseram que o menino ficou paraplégico e corre risco de morte. A mãe está em condição estável.
(Por Maria Clara Pestre; Reportagem adicional de Sérgio Queiroz)