HONG KONG (Reuters) - Em um shopping vazio, que antigamente vivia agitado com o comércio de smartphones de alta tecnologia, um vendedor de Hong Kong senta-se cercado por caixas de fones de ouvido da Apple, resmungando sobre o movimento baixo - um efeito dominó da fraca demanda da China continental.
Nos últimos anos, centenas de milhares de dispositivos da Apple foram contrabandeados através da fronteira para a China continental, onde podiam mudar de mãos por até quatro vezes o preço cobrado em Hong Kong.
Mas grande parte desse comércio foi aniquilado quando a Apple abriu mais lojas na China continental, passou a lançar novos telefones simultaneamente na China e em Hong Kong e as marcas de celulares locais aumentaram sua participação no maior mercado mundial de smartphones.
"Eu quero fazer outra coisa, fazer uma mudança", disse o vendedor em meio a dezenas de lojas fechadas. "Depender do iPhone mal ajuda no sustento agora. Você não pode realmente ganhar muito dinheiro."
Ele não quis se identificar porque revende telefones para os chamados comerciantes paralelos - que compram bens em Hong Kong para vender com lucro no outro lado da fronteira.
Depois de 10 anos vendendo telefones, o vendedor disse que os comerciantes paralelos agora representam menos da metade de seus negócios, ante 80 a 90 por cento anteriormente.
Seu conto reflete uma tendência mais ampla em Hong Kong: o fim do papel da cidade como intermediária na venda de uma ampla gama de produtos, de leite em pó a iPhones, para os chineses do continente preocupados com a segurança alimentar ou ansiosos para rapidamente colocar as mãos em aparelhos de alta tecnologia.
Em uma entrevista sobre os resultados trimestrais na terça-feira, o presidente-executivo da Apple, Tim (SA:TIMP3) Cook, culpou Hong Kong por uma queda de 10 por cento na receita da grande China, ressaltando uma queda do número de turistas da China que visitam Hong Kong.
Ele disse que a receita na China continental cresceu 6 por cento em termos monetários ajustados. Dados de analistas da indústria indicam que os embarques de iPhones recuaram.
As vendas de iPhones na China diminuíram pelo segundo trimestre consecutivo em relação ao ano anterior, de acordo com a consultoria Canalys, acrescentando que o volume de vendas caiu 12 por cento no trimestre encerrado em junho ante o mesmo período do ano passado e 14 por cento em relação ao trimestre anterior.
"As pessoas estão esperando o próximo iPhone. Esperamos que os embarques cresçam no terceiro e no quarto trimestres ... A receita das vendas de iPad e MacBook compensou as vendas de iPhone", disse o analista da Canalys, Mo Jia.
Na China, a Apple caiu para a quinta posição no mercado, ao ser ultrapassada pela marca local Xiaomi, observou a Strategy Analytics, e a chinesa Huawei está agora a apenas 3 milhões de telefones de ultrapassar a Apple como a segunda maior fornecedora global de smartphones, depois da Samsung Electronics.
De acordo com o levantamento da Canalys, os embarques de iPhone para Hong Kong representaram 4,5 por cento do total enviado para a China continental no último trimestre, ante 33 por cento há apenas dois anos.
Em 2009, quando havia apenas uma única loja da Apple na China continental, a Apple enviou mais telefones para Hong Kong do que para o continente - embora muitos deles encontraram seu caminho através da fronteira no que era um comércio rentável para contrabandistas e turistas.
"Os consumidores chineses estão cada vez mais a favor das marcas chinesas, e a Apple não está mais tão na moda na China ", disse o analista da Strategy Analytics, Neil Mawston.
Ele acrescentou que o próximo iPhone, esperado para mais tarde neste ano, deve impulsionar a Apple, mas "as perspectivas para a Apple na China continuam sendo muito desafiadoras".
(Por Venus Wu, Sijia Jiang, Susan Gao, Tanya Gurka e Jasper Ng)