Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A gestora de crédito corporativo Captalys está pavimentando caminho para uma listagem de ações em bolsa nos próximos dois anos, apostando estar bem preparada para aproveitar as oportunidades criadas pelas transformações nos empréstimos a pequenas e médias empresas.
A Captalys desenvolveu desde 2010 uma plataforma que concede financiamentos de acordo com necessidades setoriais específicas, tais como negócios sazonais. Em vez dos boletos mensais, os tomadores oferecem como pagamento, por exemplo, um percentual da receita futura. As operações não são feitas de forma direta, mas envolvem parceiros que conhecem mais diretamente a realidade de cada setor.
"Pretendemos fazer um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) nos próximos dois anos", disse a norte-americana Margot Greenman, presidente-executiva e co-fundadora da Captalys, que participa nesta terça-feira de um evento do Morgan Stanley (NYSE:MS), em Nova York, para apresentar a investidores companhias de alto crescimento e com planos de listar ações em bolsa nos próximos anos.
"Não se trata apenas de ganhar spread", disse Margot se referindo à diferença entre o preço pago por uma instituição para tomar recursos no mercado e o que cobra do tomador. "Em vez disso, nós participamos de verdade da vida dos empreendedores e os ajudamos a crescer ofertando recursos da forma que eles precisam."
A Captalys também tem operado com processadoras de pagamentos e com prestadores de serviços de saúde como clínicas, hospitais e laboratórios que atuam junto ao poder público.
Considerando os empréstimos na ponta do tomador, a gestora intermediou 8 milhões de operações no ano passado, alta de oito vezes em relação a 2017. A expectativa da executiva é de que neste ano esse número cresça para 20 milhões. A Captalys fechou 2018 com uma carteira de 3 bilhões de reais. Os recursos são captados com investidores qualificados. Entre os sócios da empresa estão o fundo de private equity Finvest e as gestoras Two Sigma e Morgan Rio Capital Management
Numa das operações mais recentes, em dezembro, a Captalys participou com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Grupo BID) de uma rodada de captação de 245 milhões de reais para o Mercado Crédito, braço do grupo de comércio eletrônico Mercado Livre para financiamento a pequenas e médias empresas.
Ex-executiva do Credit Suisse e do Banco Mundial, Margot trabalhou em mercados da América Latina por vários anos antes de ajudar a criar a Captalys no Brasil, em 2010. A companhia tem hoje cerca de 100 funcionários.
Segundo ela, mesmo com a multiplicação de fintechs na região nos últimos anos, ofertando empréstimos mais baratos a pessoas e empresas do que a rede bancária, a natureza do mercado de crédito não tem mudado de forma significativa nos últimos anos.
"Em muitos casos, elas estão apenas originando financiamentos que vão parar nos grandes bancos ou em fundos de grandes investidores", disse ela. "A transformação que vai acontecer demanda alternativas de crédito mais inteligentes que proporcionem retornos consistentes para investidores, mas que dê capital sustentável de acordo com a realidade das empresas."
Para Margot, por terem um modelo de negócios de escala, os grandes bancos têm mais dificuldade para desenvolver soluções mais personalizadas de fornecimento de recursos para investimentos. No entanto, diz ela, alguns dos grandes bancos já estão percebendo essa necessidade e a Captalys poderá no futuro eventualmente trabalhar em parceria com alguns deles.
O plano não se restringirá ao Brasil. A Captalys já abriu um escritório no México e vai abrir outro neste ano na Colômbia.