Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - Mudar o cenário de "campo de batalha" criado nas redes sociais pelos dois lados da disputa eleitoral que reelegeu a presidente Dilma Rousseff (PT) contra Aécio Neves (PSDB) no último domingo dependerá da atitude que os políticos e os partidos terão em relação a essas mídias, segundo a avaliação de analistas.
Sites de relacionamento como Twitter e Facebook têm atraído cada vez mais políticos e, na eleição deste ano, tiveram um aumento de importância em relação ao pleito anterior, na avaliação de Manoel Fernandes, sócio-fundador da consultoria Bites, especializada em redes sociais.
Mas Fernandes disse que essa participação ainda está no "jardim de infância".
"Do mesmo jeito que eles (candidatos) não conseguiram na campanha clássica debater propostas, nas redes também aconteceu isso", disse Fernandes à Reuters.
"A rede, nesse aspecto de discutir uma agenda para o país, nessa campanha eleitoral ainda ficou no jardim da infância. Mas acho que é um bom sinal, pelo menos as pessoas se posicionaram", acrescentou.
Estudo realizado pela Bites sobre a presença nas redes sociais de deputados e senadores eleitos para a legislatura que começa em 2015 apontou que o Congresso que tomará posse no início do ano que vem será o mais conectado da história, acompanhando de perto a evolução dessas mídias no país.
Essa maior presença de parlamentares pode significar uma maior interação desses políticos com o eleitorado e, dependendo do uso que for feito por deputados e senadores, as redes podem se tornar um caminho de discussão de propostas para o país.
"As manifestações de junho de 2013 mostraram que o Congresso é muito suscetível a pressões externas", disse Fernandes, lembrando que o Congresso votou uma série de propostas defendidas nos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas de todo o país em meados do ano passado.
"As redes se transformaram em um canal de pressão", disse o especialista, apontando que essas ferramentas podem ter um papel a desempenhar em discussões que o Congresso deverá ter pela frente, como a da reforma política.
Para o professor e cientista político da Unicamp Roberto Romano, as redes sociais têm um grande potencial de influenciar no debate político. Ele cita como exemplo a mobilização nas redes pela Lei da Ficha Limpa.
Ele, no entanto, lamenta o nível do debate nas redes sociais durante a campanha eleitoral deste ano e responsabiliza as campanhas tanto de Aécio quanto de Dilma pelo tom agressivo, além do que chama de "cultura personalista" da política brasileira.
"Ainda tem que se aprender muito para se usar bem essa tecnologia fantástica que é a comunicação quase que instantânea", disse Romano.
"Ainda estamos começando a usar as redes sociais no sentido verdadeiramente político... O que você encontrava (nas redes sociais) era uma servil cópia e expansão da propaganda política", acrescentou.
MAIOR INTERAÇÃO
Para Fernandes, da Bites, caberá aos políticos que tem maior alcance nas redes sociais elevar o nível do debate, usando essas ferramentas para tratar de assuntos de interesse do eleitorado.
"A rede se movimenta por fluxos. Então você tem que apertar algum botão", explica. "Os agentes políticos tradicionais precisam colocar essa discussão."
Aécio, por exemplo, sai derrotado da corrida presidencial com mais de 4 milhões de seguidores no Facebook e 230 mil no Twitter. Para Fernandes, esse ativo deve ser utilizado pelo tucano nos próximos quatro anos, período em que ele emerge como principal nome da oposição.
A própria mensagem dada por ele aos internautas, pedindo para que não se dispersem, indica essa intenção de usar as redes como um palanque até a próxima eleição para presidente em 2018, na opinião do sócio-fundador da Bites.
"Ele pode colocar a agenda que ele defende para o país como líder da oposição nessa discussão", disse. "A presidente do mesmo jeito."
Dilma, aliás, ao contrário do que fez após ser eleita em 2010, tem mantido-se ativa no Twitter, publicando na rede mesmo durante seu período de descanso pós-eleitoral na Bahia.
"Existe um ativo digital que pode ser utilizado. Depende dos candidatos agora", disse.