JERUSALÉM (Reuters) - Para os palestinos, o vídeo mostra um menino de 13 anos entregue à morte em plena rua enquanto é xingado por israelenses. Para os israelenses, mostra um adolescente sangrando depois de realizar um ataque com faca enquanto a polícia contém moradores revoltados e espera uma ambulância.
Os dois minutos de filmagem amadora se tornaram um dos vídeos que mais gerou desavenças na recente onda de violência em Jerusalém, onde imagens de ataques estão sendo compartilhadas rapidamente nas mídias sociais no que foi apelidado de "intifada do smartphone". O problema, como ocorreu tantas vezes no conflito entre israelenses e palestinos, é de interpretação.
Os palestinos assistem ao vídeo cheio de imagens tremidas, em meio a vozes que gritam xingamentos em hebreu, e tiram uma série de conclusões que alimentam a raiva e o alarme. Os israelenses também o assistem –juntamente com imagens anteriores de câmeras da polícia que exibem os dois adolescentes palestinos correndo pelas ruas com facas e atacando um menino israelense– e chegam a conclusões totalmente diversas.
"Os dois lados estão vivendo em dimensões diferentes", disse Daniel Nisman, analista de inteligência e segurança que comando o Grupo Levantino. "Você pode ver um incidente acontecer e ser interpretado de duas maneiras completamente diferentes instantaneamente".
Igualmente imediato é o compartilhamento entre dezenas de milhares de pessoas em plataformas sociais como WhatsApp e Facebook, onde a revolta de cada comunidade é reforçada como em uma câmara de eco, criando uma divisão cada vez mais profunda entre as partes.
O vídeo em questão mostra Ahmed Manasra, palestino de 13 anos de Beit Hanina, no norte de Jerusalém, caído em uma rua de Pisgat Zeev, um assentamento judeu próximo, com as pernas retorcidas e sangue emanando da cabeça depois de ser atingido por um carro. Foi gravado na segunda-feira, minutos depois de dois israelenses, incluindo um menino em uma bicicleta, serem esfaqueados do lado de fora de uma loja das imediações. A polícia de Israel acusou Manasra e seu primo de 15 anos pelos atentados, e a família negou que eles os tenham cometido.
Após cerca de um minuto, uma ambulância chega, embora não fique claro de imediato se Manasra foi socorrido. Em certo momento ele se senta, mas a polícia lhe ordena que volte a se deitar e verifica se ele carrega explosivos. Não há sinal de uma faca.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, e outros líderes palestinos rapidamente expressaram seu repúdio, afirmando que o garoto e seu parente foram "executados" por Israel "a sangue frio".
Ahmed Manasra, entretanto, está vivo e sendo tratado em um hospital do Estado judeu. O menino israelense esfaqueado continua em estado grave, e a segunda vítima ficou levemente ferida.
(Reportagem adicional de Nidal Almughrabi, em Gaza, e Ali Sawafta, em Ramallah)