Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - O presidente palestino, Mahmoud Abbas, está sofrendo pressão em casa por causa de seu comparecimento ao funeral do ex-chefe de Estado israelense Shimon Peres, que compartilhou um prêmio Nobel da Paz por acordos de paz temporários com os palestinos.
Em postagens em árabe nas redes sociais, os críticos de Abbas, que conta com apoio ocidental, se concentraram em uma visão do legado de Peres que se choca com a aclamação mundial do líder como arquiteto dos históricos Acordos de Oslo nos anos 1990.
Peres, ex-primeiro-ministro e ex-presidente de Israel, morreu na quarta-feira, aos 93 anos de idade. Ele foi sepultado em uma cerimônia de Estado em Jerusalém na sexta-feira à qual compareceram o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e dezenas de dignitários de todo o mundo.
Mas o presidente do Egito e o rei da Jordânia, líderes dos dois únicos países árabes que assinaram tratados de paz com Israel, não estiveram presentes, e o principal adversário político de Abbas, o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, repudiou a participação do presidente palestino, que viu como uma traição dos princípios palestinos.
No mundo árabe e em suas redes sociais houve muitas menções ao bombardeio israelense de 1996, quando Peres era premiê, de um complexo da Organização das Nações Unidas (ONU) no vilarejo de Qana, no sul do Líbano.
Mais de 100 civis que se abrigavam no local morreram durante uma ofensiva do Estado judeu contra guerrilheiros do grupo Hezbollah. Israel disse que suas forças visavam militantes que disparavam foguetes das proximidades.
Na Cisjordânia ocupada pelos israelenses, um funcionário de segurança palestino de alto escalão, o tenente-coronel Osama Mansour, foi preso no sábado por ter criticado Abbas no Facebook.
"Se foi decisão sua participar do funeral do assassino de nossas crianças, você estava errado. E se você tomou a decisão com a recomendação (de seus conselheiros), foi ludibriado", escreveu Mansour.
Peres fortaleceu o poderio militar e nuclear de Israel nos anos 1950 e 1960 e, como ministro da Defesa nos anos 1970, apoiou a expansão dos assentamentos em territórios que seu país conquistou na Guerra dos Seis Dias de 1967 e que os palestinos reivindicam para estabelecer um Estado.
No funeral, Abbas se sentou na primeira fileira --autoridades palestinas disseram que a família de Peres o convidou-- e trocou um aperto de mãos com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Foi a primeira visita do presidente palestino a Jerusalém desde 2010, mas tendo em conta que as conversas de paz com Israel estão congeladas desde 2014, não houve nenhum indício de que algo possa sair do aperto de mão e das poucas gentilezas que Abbas e Netanyahu trocaram no funeral.