Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - Quando o Exército israelense disse aos palestinos do campo de refugiados de Beach, na Cidade de Gaza, que fugissem para o sul, pois era mais seguro, a família de Dima Al-Lamdani, de 18 anos, rezou para que eles escapassem dos implacáveis ataques aéreos.
Mas dias depois, Lamdani teve que identificar os corpos de seus parentes em um necrotério improvisado na cidade de Khan Younis, no sul. Ela disse que perdeu os pais, sete irmãos e quatro membros da família de seu tio em um ataque aéreo israelense.
"Eles nos disseram para deixar a casa e ir para Khan Younis porque é seguro... Eles nos traíram e nos bombardearam", afirmou.
Ela contou que sua família e a de seu tio viajaram em dois carros pela Faixa de Gaza, que enfrentou o mais pesado bombardeio depois que o grupo militante palestino Hamas lançou um ataque contra Israel em 7 de outubro, matando cerca de 1.400 pessoas e fazendo mais de 200 reféns.
A família de Lamdani estava hospedada em um abrigo temporário em Khan Younis. "Às 4h30, eu estava acordada e sentada com minha tia tomando café. De repente, acordei no meio das ruínas. Todos ao meu redor estavam gritando, então eu gritei", disse.
Lamdani, com a lateral do rosto machucada, afirmou, após procurar os membros de sua família no necrotério em 17 de outubro, que apenas seu irmão e dois primos jovens haviam sobrevivido.
"Isso é um pesadelo. Nunca será apagado da minha memória", disse ela. "Eu tinha uma irmã de 16 anos. Eles escreveram meu nome no lençol branco em que envolveram o corpo dela, pensaram que era eu."
Caminhões de ajuda
Um porta-voz militar israelense disse: "As IDF (Forças de Defesa de Israel) têm incentivado os moradores do norte da Faixa de Gaza a se deslocarem para o sul e a não permanecerem nas proximidades dos alvos terroristas do Hamas na Cidade de Gaza."
"Mas o Hamas se entrincheirou entre a população civil em toda a Faixa de Gaza. Portanto, onde quer que surja um alvo do Hamas, as IDF o atacarão para frustrar as capacidades terroristas do grupo, ao mesmo tempo em que tomam as devidas precauções para reduzir os danos aos civis não envolvidos."
As autoridades de saúde de Gaza disseram que mais de 5.000 pessoas foram mortas nas duas semanas de bombardeio israelense e mais de 15.000 ficaram feridas.
Depois de 7 de outubro, Israel impôs um bloqueio total à Faixa de Gaza, que está ficando sem água, alimentos, medicamentos e combustível para seus 2,3 milhões de habitantes.
Nesta segunda-feira, trabalhadores humanitários e fontes de segurança disseram que um terceiro comboio de caminhões de ajuda humanitária entrou na travessia de Rafah, no Egito, com destino a Gaza. Rafah é a principal passagem que não faz fronteira com Israel.
Autoridades da ONU dizem que são necessários cerca de 100 caminhões por dia para atender às necessidades essenciais em Gaza. No sábado e no domingo, 34 caminhões passaram por lá.
Em uma escola das Nações Unidas em Khan Younis, Nasser Abu Amer, sua esposa e oito filhos disseram que estavam desesperados por comida e água.
"Que ajuda? Eles estão nos dando 2 alimentos enlatados, para quê? Café da manhã, almoço e jantar para as crianças?", afirmou Amer.
(Reportagem adicional de Dan Williams, Aidan Lewis, Tuvan Gumrukcu e Jan Strupczewski)