Por Guy Faulconbridge e Filipp Lebedev
MOSCOU (Reuters) - Belarus disse nesta sexta-feira que combatentes do grupo mercenário Wagner estavam instruindo seus soldados em uma área militar a sudeste de Minsk, a primeira indicação de que pelo menos parte de um acordo para acabar com um motim na Rússia pode estar sendo implementado.
Alguns combatentes do Wagner estão em Belarus desde pelo menos terça-feira disseram à Reuters duas fontes próximas aos combatentes, sob condição de anonimato devido à sensibilidade da situação.
O motim do Wagner, durante o qual o grupo assumiu o controle de um importante quartel-general militar no sul da Rússia e depois marchou em direção a Moscou, poderia ter levado a Rússia a uma guerra civil, segundo o presidente Vladimir Putin.
Com combatentes de uma das forças mercenárias mais aguerridas do mundo a apenas 200 km de Moscou, o Kremlin fechou um acordo sob o qual o chefe do Wagner, Yevgeny Prigozhin, desmobilizou seus mercenários e concordou em se transferir para Belarus em troca de o governo russo abrir mão de acusações pelo motim.
No entanto, até agora, não havia sinais de combatentes do Wagner em Belarus e Prigozhin não foi visto em público desde que deixou a cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia, em 24 de junho, embora um jato particular ligado a ele tenha se movido entre Belarus, Moscou e São Petersburgo.
Instrutores
"Os combatentes do Wagner atuaram como instrutores em várias disciplinas militares", disse o canal de televisão do Ministério da Defesa de Belarus. A agência de notícias estatal Belta também informou que o Wagner estava treinando soldados bielorrussos.
O ministério divulgou um vídeo mostrando o que disse serem combatentes do Wagner instruindo soldados bielorrussos em um campo militar perto da cidade de Osipovichi, cerca de 90 km a sudeste da capital Minsk.
Pelo menos um dos combatentes identificados como mercenários de Wagner tinha um símbolo de boneca Matryoshka em seu capacete, usado por alguns combatentes do Wagner.
Quando a Reuters esteve em um acampamento perto de Osipovichi na semana passada, como parte de uma viagem organizada por Belarus, não havia sinal de combatentes do Wagner lá.
O líder bielorrusso Alexander Lukashenko ajudou a intermediar o acordo de 24 de junho, embora tenha dito a repórteres há uma semana que Prigozhin estava na Rússia.
O Wagner foi fundado em 2014 por Prigozhin e Dmitry Utkin, um ex-oficial das forças especiais da inteligência militar GRU da Rússia, como uma forma de a Rússia se envolver em guerras ao redor do mundo com total negação do Estado russo.
Desde o motim, Putin disse que o grupo tinha sido financiado pelo Estado russo.
O Wagner ajudou a Rússia a anexar a Crimeia em 2014, lutou contra militantes do Estado Islâmico na Síria, operou na República Centro-Africana e no Mali e tomou a cidade ucraniana de Bakhmut para a Rússia no início deste ano, depois que ambos os lados sofreram pesadas perdas.
Putin ofereceu aos mercenários do Wagner a oportunidade de continuar lutando em uma reunião poucos dias depois de seu motim fracassado, mas sugeriu que Prigozhin fosse afastado em lugar de um comandante diferente, disse o jornal Kommersant.
(Reportagem de Guy Faulconbridge em Moscou e Filipp Lebedev em Tbilisi)